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| Em Sete Lagoas, o primeiro crematório do Brasil. Para J. Luz em Santa Cruz do Sul, RGS |
Pássaros & Escorpiões
Histórias regatadas do Vorinho, Domingos Geraldo Lanza
“Os pássaros que a viúva não aceitava: Beija-flor, Belga... Eram seis os pássaros que ela não aceitava para fazer farofa. Não me lembro dos outros quatro. Pássaro Preto? Não me lembro. Ela aceitava Sabiá e outros do mesmo porte de um Sabiá. Com eles, preparava a farofa para a meninada. Uma farofa muito gostosa. Nunca mais comi igual. Talvez o melhor tempero seja a fome dos meninos. Saíamos cedo de casa e voltávamos tarde, íamos caçar passarinho e pescar. Íamos para as matas. Um dia, meu pai colocou polícia atrás de mim, sai às 7h e às 8h da noite não havia voltado.
“A casa da viúva era ali, onde hoje é a rua Paulo de Frontin. Casas com grandes quintais e que cederam espaço para as ruas. Era mulher de um ferroviário, um maquinista. Naquela ocasião, Sete Lagoas crescia como sede de um setor importante da ferrovia. Aqui ficavam as oficinas. Também os depósitos e toda a infra-estrutura de apoio à rede. Mais de dois mil funcionários ferroviários viviam com suas famílias. Operários qualificados, e todos tinham uma vida digna. Não há quem não fique revoltado e sem entender porque destruíram toda a nossa estrutura ferroviária. Importantes ferrovias para o País. Culpam Juscelino por causa do avanço das rodovias. Mas Juscelino fez certo, não era sua política desativar as ferrovias por causa das rodovias. Isto aconteceu em outro governo.
“A viúva? Contavam na época que a viúva havia traído o marido, e que o último filho dela era de um mascate judeu. Havia muitos mascates, viajantes, na época, eles chegavam com suas malas grandes e cheias de objetos (alguns desses objetos certamente seduziam as mulheres).
“Abalado, o marido dela mergulhou no forno, jogou uma tora de lenha e foi junto. Em cada composição trabalhavam dois maquinistas, um alimentava o fogo, e o outro dirigia. Iam se revezando. Quando o maquinista da vez deu pela falta do que havia se atirado no forno era tarde. Naquela época, os velórios eram nas casas, e o velório deste maquinista não pode ser feito na casa dele. Ele teria sido enterrado por lá mesmo - acho que ficou dentro da máquina, do forno, como tirariam ele de dentro do forno, como desligariam o forno? Foi um dos primeiros fornos de cremação de cadáver de Minas. Sete Lagoas sempre na frente.”
Um escorpião atrás do outro
“Meninos, brincávamos com o círculo de fogo para os escorpiões. Aqui, em Sete Lagoas, tinha muito escorpião. Eram tantos que fazíamos o círculo de fogo, com algodão ou com um pano umedecido de álcool, e colocávamos o escorpião lá dentro. Quando ele suicidava, jogávamos imediatamente outro. Era um atrás do outro. Suicídio imediato. Nenhum se aventurava a romper o círculo de fogo.”
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“Os pássaros que a viúva não aceitava: Beija-flor, Belga... Eram seis os pássaros que ela não aceitava para fazer farofa. Não me lembro dos outros quatro. Pássaro Preto? Não me lembro. Ela aceitava Sabiá e outros do mesmo porte de um Sabiá. Com eles, preparava a farofa para a meninada. Uma farofa muito gostosa. Nunca mais comi igual. Talvez o melhor tempero seja a fome dos meninos. Saíamos cedo de casa e voltávamos tarde, íamos caçar passarinho e pescar. Íamos para as matas. Um dia, meu pai colocou polícia atrás de mim, sai às 7h e às 8h da noite não havia voltado.
“A casa da viúva era ali, onde hoje é a rua Paulo de Frontin. Casas com grandes quintais e que cederam espaço para as ruas. Era mulher de um ferroviário, um maquinista. Naquela ocasião, Sete Lagoas crescia como sede de um setor importante da ferrovia. Aqui ficavam as oficinas. Também os depósitos e toda a infra-estrutura de apoio à rede. Mais de dois mil funcionários ferroviários viviam com suas famílias. Operários qualificados, e todos tinham uma vida digna. Não há quem não fique revoltado e sem entender porque destruíram toda a nossa estrutura ferroviária. Importantes ferrovias para o País. Culpam Juscelino por causa do avanço das rodovias. Mas Juscelino fez certo, não era sua política desativar as ferrovias por causa das rodovias. Isto aconteceu em outro governo.
“A viúva? Contavam na época que a viúva havia traído o marido, e que o último filho dela era de um mascate judeu. Havia muitos mascates, viajantes, na época, eles chegavam com suas malas grandes e cheias de objetos (alguns desses objetos certamente seduziam as mulheres).
“Abalado, o marido dela mergulhou no forno, jogou uma tora de lenha e foi junto. Em cada composição trabalhavam dois maquinistas, um alimentava o fogo, e o outro dirigia. Iam se revezando. Quando o maquinista da vez deu pela falta do que havia se atirado no forno era tarde. Naquela época, os velórios eram nas casas, e o velório deste maquinista não pode ser feito na casa dele. Ele teria sido enterrado por lá mesmo - acho que ficou dentro da máquina, do forno, como tirariam ele de dentro do forno, como desligariam o forno? Foi um dos primeiros fornos de cremação de cadáver de Minas. Sete Lagoas sempre na frente.”
Um escorpião atrás do outro
“Meninos, brincávamos com o círculo de fogo para os escorpiões. Aqui, em Sete Lagoas, tinha muito escorpião. Eram tantos que fazíamos o círculo de fogo, com algodão ou com um pano umedecido de álcool, e colocávamos o escorpião lá dentro. Quando ele suicidava, jogávamos imediatamente outro. Era um atrás do outro. Suicídio imediato. Nenhum se aventurava a romper o círculo de fogo.”
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