domingo, 7 de janeiro de 2024




 


 

- Como é que faz agora? Vou subir? Zé Altino imperturbável apenas responde: - Se subir, voaremos para a eternidade....

 

 

Passamos naquele grande e misterioso mundo verde, nove fenomenais e inesquecíveis dias. Hoje, apesar de tantas odisseias, guardo com prazer enorme as emoções, tanto boas quanto as nem tão boas vividas.

 

 

Clóvis Moreira Costa (*)

 

Protegido por Deus, levado pelo demônio

 

 

 

 

Voar com Zé Altino é tranquilo sem contar os momentos em que se tem certeza de que se faz um último voo principalmente se é daqueles que amam o chão.

 A experiência foi traumática, aliás mais que isto, assustadora. O céu ficou de repente esburacado. Entramos em uma tempestade, entre Redenção e São Felix do Xingu, no Pará. O voo com previsão de mais de oito horas começara em Governador Valadares com destino à Itaituba, quase centro geográfico brasileiro, às margens do rio Tapajós.

Escalas em Gurupi- Tocantins.  

O Cessna 210 se tornara um cavalo bravo, nunca amansado. Única segurança à vista era estar ao lado do domador. Entretanto, naquele momento tempestuoso, o comando do avião estava entregue a Waltinho vulgo Minhoca, (até que parecia mesmo) vinte e poucos anos. Aquela seria uma de suas primeiras grandes aulas práticas como piloto.  Aprendiz, já descontrolado, nervoso com medo grita:

- Como é que faz agora? Vou subir?

Zé Altino imperturbável apenas responde:

- Se subir, voaremos para a eternidade....

“Clóvis, codinome da inocência, só pensava no porquê.”

Entrando ao núcleo teríamos um choque, tal qual trombada a uma massa d’água e gelo, esclareceu com sorriso o agora sádico José Altino.

Filho da puta, não disse, mas pensei.

Ainda achando graça, não sei de que completou:

“Haveremos de encontrar uma saída. Voando um pouco mais baixo um buraco aparecerá. A saída é um buraco na tempestade em que possamos ver o céu azul”        

Ainda estava de dia.

Mas, Zé Altino não fala dando ordens: 

Gesticulando somente diz a Minhoca para baixar o avião.

“Para baixo mesmo, o pior que pode acontecer é um pouso nas árvores”.

Além de sádico deve sentir prazer com a fatalidade, eu pensava com a mente em tumulto, já com certeza de sua morte iminente.

Disparatado, comecei a protestar em voz alta:

- Você vai me matar Zé Altino. Eu vou morrer aqui. Nossa Senhora, o que eu vim fazer aqui. Sua companhia é risco constante, porra.

E assim estas três frases se tornaram refrãos, ora uma ora outra:

- Você vai me matar.

- Eu vou morrer aqui.

- Nossa Senhora, o que eu vim fazer aqui?

Pela excitação e tensão que vivi ainda recordo até hoje daquele voo.

Só pode ter sido mesmo Deus pois, depois daquela merda todo na qual nos enfiamos, surgiu uma abertura meio escura meio clara e nela mergulhamos ou melhor, de dentro da dita para uma rasante sobre as copas das árvores. 

Mal saíramos da tempestade, e o infeliz ainda ria. Mas, aí pude perceber que era de mim mesmo.

Puto sô. Me olhava e achava graça. Cacete, se queria ir para o inferno que fosse sozinho, ora. 

Já no solo, Ave Maria, sentíamos um cheiro estranho até Zé Altino aconselhar Waltinho, o aprendiz de piloto, a usar o banheiro.

Só que o pior começaria a aparecer em série, pois Zé Altino anunciara, em Valadares, em todas as nossas conversas preparatórias daquele mundo maravilhoso que eu conheceria, que percorreríamos vários garimpos. 

Chegara a hora de entender esta sentença, “percorrer vários garimpos”, ou seja, subir e descer, pousar, subir e pousar.

Pousamos no Garimpo do Rato e no Garimpo Rosa de Maio. Não existia, em nenhum daqueles cinco garimpos que subimos e pousamos, uma pista asfaltada ou com a terra lisa, nada, nada.

Todas as elas foram abertas com enxadas e alisadas pelas mãos dos homens que nem sempre desentocavam direito, num lugar no qual, da noite para o dia, brota se uma nova árvore. 

Pousado, ele passava para o pessoal a indicação dos locais onde deviam tirar os novos tocos e aplainar melhor o chão desfazendo alguns buracos na lama.

Depois de todos os voos, todas as subidas e todos os pouso teríamos uma noite sem pesadelos, estes tivemos nas alturas em cima de uma mata onde os rios antes caudalosos se tornam córregos como linhas finas finíssimas. 

Passamos naquele grande e misterioso mundo verde, nove fenomenais e inesquecíveis dias, que hoje, apesar de tantas odisseias, guardo com prazer enorme as emoções, tanto boas quanto as nem tão boas vividas.

E para se ver o Minhoca hoje, já comandante Walter. Se o chamarmos de Minhoca, o rapaz acha ruim.

De volta a Valadares, um irmão de José Altino quis saber:

- Você iria de novo?

Respondi na lata:

- Tá doido? Agora ficou pior ainda. O Zé está mais velho e, quer saber, penso até que ele enxerga cada vez menos. Agora, voar com ele não é mais tranquilo.

 

 

 

 

(*) Clóvis Moreira Costa, valadarense, é ilustrador e editor de livros

 

 

 

 

 https://diariodeminas.com.br/--como-e-que-faz-agora-vou-subir-ze-altino-imperturbavel-responde---se-subir-voaremos-para-a-eternidade   



terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CASA SEM MULHER NÃO É CASA

 






 

Não é complemento

 

Rufino Fialho Filho

 

 

Ela chegou na minha casa não como antes chegara na minha vida. Se fora um furacão do sexo, do amor, da paixão desenfreada, próxima da marginalidade, do crime passional.

 

 

Desta vez, doce como um anjo, assexuada, anjo não tem sexo. Assexuada, pelo menos é o que diz. Seis anos depois do último encontro com um homem na horizontal. Ainda com um namorado destes contentes com imagens, palavras, tudo na tela – amor (?) cultivado em hemisférios diferentes, ele no Norte. Ela, agora, no Sul, abaixo da linha do Equador. Calor total.

 

 

Casa sem mulher não é casa. Toda casa tem que ter uma mulher.

 

 

Sentenças do cardeal Geraldo Santana, saindo da casa do seu velho amigo, o ex-governador Hélio Garcia, vivendo a solidão sob os cuidados de militares, responsáveis por todo o trabalho da casa da rua Paracatu e da assistência ao homem sem memória, sem cuidados femininos, sem amor, todos desperdiçados pelo poder e pela busca (?) do prazer que furtivos se dispensava em poucos minutos com a dispensa (paga, pagava pelo corpo quente e suave das meninas selecionadas pelos ajudantes de ordem).

 

 

Agora, com a chegada dela, minha doce Manoelita, descobri esta verdade, com a casa mudando de cara, a poltrona voltando a ser poltrona e não estante de livros, a mesa virando mesa para o café e o almoço e não apenas mesa de trabalho com o computador não sendo um talher.

 

 

O filtro subindo para o seu espaço como depósito de água potável. As panelas organizadas para a comida do dia.  A geladeira voltou a ser um amontoado, agora organizado, de vasilhas úteis para os alimentos.

 

 

Incrível, as plantas ganharam vida com o fim (ela tirou) das ervas daninha. Ela sabe, ela conhece. Até a avenca, de quem havia desistido, voltou e se fortaleceu em poucos dias, reocupando o espaço que perdera, anteriormente, para as samambaias gulosas por espaços e que se espalharam por todos os cantos – apesar de gostar destas plantas salientes e generosas, sei que elas, se deixar, se espalham indo além do coração da gente.

 

 

Com uma mulher dentro de casa, tudo muda a cada hora, até o humor esse te surpreende mais generoso, mais delicado, irreconhecível pelos gestos de delicadeza que já não se sabia capaz.

 

 

“Você não vai sair feito um molambo com estas roupas sujas e amarrotadas”.

 

 

É quando o cidadão se descobre um homem limpo, asseado e bem cuidado como a casa.

 

 

Se como diz o cardeal, uma casa sem mulher não é uma casa, um homem sem a presença de uma mulher jamais chegará a ser.

 

 

A mulher é aquela que cozinha e faz comidas deliciosas com a participação do picador de alho, de cebola, responsável pela salada de alface, rúcula, acelga e mostarda...

 

 

A mulher é aquela que faz a casa feliz, sorrir para as plantas e as plantas ganharem cor e vitalidade. Foi o que aconteceu em menos de uma semana, depois que ela, a mulher, chegou com o jardim e com o homem velho. Animado, focou na fisioterapia, no pilates e na recuperação da força muscular e do caminhar com as próprias pernas.

 

 

Nariz atiçado pelos cheiros femininos que ocupam a casa, a cama, os lençóis e as toalhas, dizendo para o cara que a libido se apresenta sempre em horas inesperadas, às vezes até em sonhos humanos demasiados humanos.

 

 

 

 

 

 

 


quarta-feira, 28 de junho de 2023

VIDA VADIA

 






 

 

Em um lugar vivo    


e em mim mesmo

 

 


Rufino Fialho Filho

 

 

Uma infância vadia 


como o Mucuri de enchente

 

Água calma – invadindo a estrada

 

Água sensata – colhendo ribeirinhos

 

Água-água – acalmando corredeiras

 

 

 

Uma infância, onde os adultos viviam

 

calados e as caixas falantes

 

Humorismos em ondas nacionais   

 

Músicas e sucessos e carnavais   

 

 

 

Tudo seria muito lindo

 

Lá no longe, no Rio, outro mundo

 

De lá vinham horas tensas

 

das crises presidenciais

 

 

 

Da caixa saia empostada

 

a voz de um deus de toda a verdade

 

repetida como verdade certa

 

 

 

A vilazinha de Pavão

 

uma rua que dobra,

 

sobe e desce o morro

 

 no caminho da gente

 

 

 

 

 

Até Pavão, 


noventa quilômetros de poeira,

 

lama e enjoo  

 

nos jipes, nos regatos,

 

nas histórias ao ritmo das marchas,

 

dos arranques e das freadas

 

 

 

 

Viagem puxa conversa

 

como cafezinho em casa amiga

 

Seu Juca e Dona Beza 


moram na sede da fazenda

 

 

 

Sentado, na frente da casa

 

de onde um dia saiu um coral

 

noutro dia, um escorpião

 

 que Dã carregou curiosa

 

 

 

 

Na calçada acimentada,

 

o vaqueiro Agibe espera 


o relógio avisar

 

para separar os bezerros

 

 

 

 

Sai o dia


entra a hora de Jerônimo,

 

proibido qualquer ruído

 


Hoje, mil anos depois, 


Seu Juca e Dona Beza      

 

exigem silêncio

 

impossível no horário 


nobre da televisão

 

 

 

12 bolos para nunca mentir    

 

A dignidade do homem está em não mentir  

 


Mas, mas.

 

Mas como menino saberia 


o que era morrer?

 

Cedo nasceu este meu mundo distante

 

Isolado pelos meus voos fantásticos   

 

no avião de brinquedo                                       

 

no céu de verdade                                              

 

no campo de pouso do Cruzeiro                                  

 

onde vivia só para minha alegria

 

a menina morena         

                                                                 

                                                                 

 

 

Tempo frio e chuva fina

 

debaixo da ducha fria

 

na noite antes de ser noite

 

na tarde que segurou a chuva fina

 

no prenúncio da noite escura, 


fria e gelada

 

 

 

 

 


sexta-feira, 16 de junho de 2023

O PASSADO JAMAIS ESCAPA DO PRESENTE

 





E ela chegou

 

 Rufino Fialho Filho

 

Vivo um tempo diferente. Sempre sozinho a maior parte dos dias e das noites. De repente uma jovem abre a porta e entra na minha vida.

 

Magrinha como você (ainda é?). Ela tem 24 anos. É do final do século XX. Nasceu em 1999.

 

Passamos a conviver. O impacto desta presença complicou um pouco minha cabeça. Havia desaprendido a viver com uma moça dentro de casa.

 

Percebi, imediatamente, foi minha sorte, que eu é que teria que aprender com ela e seus hábitos. Focada na conclusão do seu curso, ela estuda 90% do tempo em que estamos juntos.

 

Se sujou, limpa.

 

Esta diretriz que sempre nos acompanhou foi para o espaço. Até que ela lava e guarda - tudo fora de ordem.

 

Mas se acorda, se prepara seu lanche, tudo ficará sujo, só lavará quando voltar da universidade, às 19h.

 

Espalha calcinhas e sutiãs na sala, no quarto, na cama dela e na minha (dormimos em quartos separados – ela ronca).

 

Carinhosa, meiga, gentil, não se nega a fazer nada que eu peça. Quero muito pouco além da presença feminina na minha vida e na casa.

 

Se ela ainda não aprendeu as guardar os talheres em suas respetivas gavetas, tudo bem. Eu guardo.

 

Se ela não arruma a cama. Tudo bem. Eu arrumo.

 

Afinal, se estes são os afazeres a fazer, faço-o eu. A contrapartida é tão grande pelo doce prazer que ela trouxe para nossa vida.

 

A conversa é sempre curta, rápida.

 

Monossilábica.

 

Gosto muito do seu abraço. Tão pouco para o tamanho da expectativa e o tanto que sempre gostei de me aconchegar e ter em meus braços um corpo quente.

 

Nossos diálogos só tiveram um momento de "diálogo" quando comentamos o filme Mucize.

 

O vazio chega como esta chuva aí em Connecticut. Cai de montão e ininterrupta quando ela anuncia que irá para a casa dela.

 

Entendo que a companhia desta menina, moça e mulher é tão ou mais importante para a mãe dela do que para mim.

 

Filha de pais separados, pouco conviveu com o pai. A maior parte da vida vivida com a mãe consolidou uma relação harmoniosa e cheia de cumplicidades.

 

Hoje, ela viajou e aproveitei para resgatar alguns momentos vividos para cumprir uma experiência ditada pelo meu mestre de “passados” Walter Benjamim

 

Raramente ela me abraça. Raramente ela me beija. Hoje, ao nos despedir, ela não me abraçou e nem me beijou.

 

Assim, minha filha Ana Luísa, mais uma vez, saiu pela porta que ela mesma abriu

 

 

 

 

É Walter Benjamim quem diz que a esperança é olhar para o passado e fazer o

“presente”.

 

Das Teses sobre o conceito da história, 1940, de Walter Benjamin

Separei estas

 

3

 

 O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos.

 

 

18

 

"Comparados com a história da vida orgânica na Terra", diz um biólogo contemporâneo, "os míseros 50 000 anos do Homo sapiens representam algo como dois segundos ao fim de um dia de 24 horas.

Por essa escala, toda a história da humanidade civilizada preencheria um quinto do último segundo da última hora." O "agora", que como modelo do messiânico abrevia num resumo incomensurável a história de toda a humanidade, coincide rigorosamente com o lugar ocupado no universo pela história humana.

 

 

 

2  do apêndice

 

Certamente, os adivinhos que interrogavam o tempo para saber o que ele ocultava em seu seio não o experimentavam nem como vazio nem como homogêneo.

Quem tem em mente esse fato, poderá talvez ter uma ideia de como o tempo passado é vivido na rememoração: nem como vazio, nem como homogêneo.

Sabe-se que era proibido aos judeus investigar o futuro. Ao contrário, a Torá e a prece se ensinam na rememoração.

Para os discípulos, a rememoração desencantava o futuro, ao qual sucumbiam os que interrogavam os adivinhos.

 

Estas foram a últimas reflexões deixadas por ele no ano do seu suicídio em 1940 na fronteira da França com a Espanha.


domingo, 8 de janeiro de 2023

O BOM MENTIROSO

 


 

 



 

Testamento & Testemunho


 Rufino Fialho Filho

 

 

A vida só me deu alegria,

 

nasci ganhando um sol imenso,

 

manhãs muito felizes,

 

dias de intenso prazer

 

e gratas e grandes surpresas,

 

um menino descalço

 

pisando um solo fervendo,

 

correndo por terras de onde sonhava voar,

 

um rapaz apaixonado por meninas e mulheres

 

próximas e distantes,

 

com poucos, mas bons amigos,

 

com grandes companheiros,

 

um homem imensamente feliz,

 

capaz de discernir,

 

de avaliar e de caminhar,

 

que jamais cedeu à dor

 

e ao sofrimento que,

 

na beleza da metamorfose,

 

tornaram-se mestres da própria beleza

 

e da arte de viver.

 

 

 

 

 

Quando pensei 


em fazer 


um testamento,

 

fiz um testemunho.

 

 

 

 

 

 

 

 



sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

TEMPOS DIVIDIDOS




 


Di Cavalcanti



A beleza não estava na rua


Rufino Fialho Filho

 



 

A verdade não tinha idade

Você não me queria

 

 

 

Assim, a vida começou

De amores, de dores

 

 

De horas repartidas

Tempos divididos

 

 

Eu ri

da hora

 

 

Da hora incerta hora

 

 

 

Do dia

incerto dia

 

 

 

Da vida

Angústia vida

 

 

 

Eu ri

Da vida

Agonia vida

 

 






terça-feira, 6 de dezembro de 2022

VIDA QUASE MORTE







A INVENÇÃO DO SUICÍDIO 

 

A mãe e os seus três filhos

 

Leandro Tocantins

 


As três crianças correm  

 

em corredores faladores    

 

de livros

 

de ecos   

 

de espelhos    

 

Algazarras de crianças a brincar      

 

de se ouvir   

 

de se ver

 

 

 

Quando a mãe dos três   

 

quando...

 

na loucura   

 

incontida pelo silêncio

 

fechada no ciúme

 

faz o gesto do suicídio

 

 

 

Arma na mão

 

 

 

É a cena da morte

 

 

Ergue-se sobre a cadeira

 

Ergue na mão a arma fatal

 

O menino que eu era fechou os olhos

 

 

 

O que é a morte?

 

 

Três crianças choram   

 

sem pernas para correr da brincadeira

 

que não era brincadeira  

 

querem correr da vida quase morte

 

 

 

A mãe e os seus três filhos são atores

 

Burlam a morte, burlam a vida

 

Riem da morte e do drama    

 

daquele suicídio encenado

 

 

 

A cena se repete

 

Até a exaustão

 

Nas nossas memórias

 

 

 

Até que um filho atire longe

 

Os fardos do amor e do desespero

 

E faça nascer um motivo lúcido  

 

de amar e continuar

 

 



(Restam duas testemunhas desta cena: eu e Helga.

Mãe morreu aos 71 anos e Estela, esta sim, suicidou aos 15 anos)