Não é
complemento
Ela chegou
na minha casa não como antes chegara na minha vida. Se fora um furacão do sexo,
do amor, da paixão desenfreada, próxima da marginalidade, do crime passional.
Desta vez,
doce como um anjo, assexuada, anjo não tem sexo. Assexuada, pelo menos é o que
diz. Seis anos depois do último encontro com um homem na horizontal. Ainda com
um namorado destes contentes com imagens, palavras, tudo na tela – amor (?)
cultivado em hemisférios diferentes, ele no Norte. Ela, agora, no Sul, abaixo
da linha do Equador. Calor total.
Casa sem
mulher não é casa. Toda casa tem que ter uma mulher.
Sentenças do
cardeal Geraldo Santana, saindo da casa do seu velho amigo, o ex-governador
Hélio Garcia, vivendo a solidão sob os cuidados de militares, responsáveis por
todo o trabalho da casa da rua Paracatu e da assistência ao homem sem memória,
sem cuidados femininos, sem amor, todos desperdiçados pelo poder e pela busca
(?) do prazer que furtivos se dispensava em poucos minutos com a dispensa
(paga, pagava pelo corpo quente e suave das meninas selecionadas pelos
ajudantes de ordem).
Agora, com a
chegada dela, minha doce Manoelita, descobri esta verdade, com a casa mudando
de cara, a poltrona voltando a ser poltrona e não estante de livros, a mesa
virando mesa para o café e o almoço e não apenas mesa de trabalho com o
computador não sendo um talher.
O filtro
subindo para o seu espaço como depósito de água potável. As panelas organizadas
para a comida do dia. A geladeira voltou
a ser um amontoado, agora organizado, de vasilhas úteis para os alimentos.
Incrível, as
plantas ganharam vida com o fim (ela tirou) das ervas daninha. Ela sabe, ela
conhece. Até a avenca, de quem havia desistido, voltou e se fortaleceu em
poucos dias, reocupando o espaço que perdera, anteriormente, para as samambaias
gulosas por espaços e que se espalharam por todos os cantos – apesar de gostar
destas plantas salientes e generosas, sei que elas, se deixar, se espalham indo
além do coração da gente.
Com uma
mulher dentro de casa, tudo muda a cada hora, até o humor esse te surpreende
mais generoso, mais delicado, irreconhecível pelos gestos de delicadeza que já
não se sabia capaz.
“Você não
vai sair feito um molambo com estas roupas sujas e amarrotadas”.
É quando o
cidadão se descobre um homem limpo, asseado e bem cuidado como a casa.
Se como diz
o cardeal, uma casa sem mulher não é uma casa, um homem sem a presença de uma
mulher jamais chegará a ser.
A mulher é
aquela que cozinha e faz comidas deliciosas com a participação do picador de
alho, de cebola, responsável pela salada de alface, rúcula, acelga e
mostarda...
A mulher é
aquela que faz a casa feliz, sorrir para as plantas e as plantas ganharem cor e
vitalidade. Foi o que aconteceu em menos de uma semana, depois que ela, a
mulher, chegou com o jardim e com o homem velho. Animado, focou na
fisioterapia, no pilates e na recuperação da força muscular e do caminhar com
as próprias pernas.
Nariz
atiçado pelos cheiros femininos que ocupam a casa, a cama, os lençóis e as
toalhas, dizendo para o cara que a libido se apresenta sempre em horas
inesperadas, às vezes até em sonhos humanos demasiados humanos.