terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CASA SEM MULHER NÃO É CASA

 






 

Não é complemento

 

Rufino Fialho Filho

 

 

Ela chegou na minha casa não como antes chegara na minha vida. Se fora um furacão do sexo, do amor, da paixão desenfreada, próxima da marginalidade, do crime passional.

 

 

Desta vez, doce como um anjo, assexuada, anjo não tem sexo. Assexuada, pelo menos é o que diz. Seis anos depois do último encontro com um homem na horizontal. Ainda com um namorado destes contentes com imagens, palavras, tudo na tela – amor (?) cultivado em hemisférios diferentes, ele no Norte. Ela, agora, no Sul, abaixo da linha do Equador. Calor total.

 

 

Casa sem mulher não é casa. Toda casa tem que ter uma mulher.

 

 

Sentenças do cardeal Geraldo Santana, saindo da casa do seu velho amigo, o ex-governador Hélio Garcia, vivendo a solidão sob os cuidados de militares, responsáveis por todo o trabalho da casa da rua Paracatu e da assistência ao homem sem memória, sem cuidados femininos, sem amor, todos desperdiçados pelo poder e pela busca (?) do prazer que furtivos se dispensava em poucos minutos com a dispensa (paga, pagava pelo corpo quente e suave das meninas selecionadas pelos ajudantes de ordem).

 

 

Agora, com a chegada dela, minha doce Manoelita, descobri esta verdade, com a casa mudando de cara, a poltrona voltando a ser poltrona e não estante de livros, a mesa virando mesa para o café e o almoço e não apenas mesa de trabalho com o computador não sendo um talher.

 

 

O filtro subindo para o seu espaço como depósito de água potável. As panelas organizadas para a comida do dia.  A geladeira voltou a ser um amontoado, agora organizado, de vasilhas úteis para os alimentos.

 

 

Incrível, as plantas ganharam vida com o fim (ela tirou) das ervas daninha. Ela sabe, ela conhece. Até a avenca, de quem havia desistido, voltou e se fortaleceu em poucos dias, reocupando o espaço que perdera, anteriormente, para as samambaias gulosas por espaços e que se espalharam por todos os cantos – apesar de gostar destas plantas salientes e generosas, sei que elas, se deixar, se espalham indo além do coração da gente.

 

 

Com uma mulher dentro de casa, tudo muda a cada hora, até o humor esse te surpreende mais generoso, mais delicado, irreconhecível pelos gestos de delicadeza que já não se sabia capaz.

 

 

“Você não vai sair feito um molambo com estas roupas sujas e amarrotadas”.

 

 

É quando o cidadão se descobre um homem limpo, asseado e bem cuidado como a casa.

 

 

Se como diz o cardeal, uma casa sem mulher não é uma casa, um homem sem a presença de uma mulher jamais chegará a ser.

 

 

A mulher é aquela que cozinha e faz comidas deliciosas com a participação do picador de alho, de cebola, responsável pela salada de alface, rúcula, acelga e mostarda...

 

 

A mulher é aquela que faz a casa feliz, sorrir para as plantas e as plantas ganharem cor e vitalidade. Foi o que aconteceu em menos de uma semana, depois que ela, a mulher, chegou com o jardim e com o homem velho. Animado, focou na fisioterapia, no pilates e na recuperação da força muscular e do caminhar com as próprias pernas.

 

 

Nariz atiçado pelos cheiros femininos que ocupam a casa, a cama, os lençóis e as toalhas, dizendo para o cara que a libido se apresenta sempre em horas inesperadas, às vezes até em sonhos humanos demasiados humanos.