O futuro do filho e da mãe
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Para Maria Márcia, em Paris, França |
Início da noite
Várias mesas na calçada da rua de lojas de roupas, em bairro especializado em confecções.
Uma mesa isolada. Uma garrafa de cerveja. Um homem jovem, gordo, de terno, gravata. Entre uma e outra, ele tira o paletó e a gravata. Naquelas imediações, a área também é de funcionários da Justiça, fóruns, escritórios de advocacia e tribunais do trabalho.
No celular, o homem jovem, filho, conversa com a mãe.
- Só quero falar com a senhora
Ele está concentrado na conversa com a mãe. Fala alto, em meio aos barulhos de bar, com mesas nas calçadas, todas ocupadas, milhares de conversas de fim de tarde. No carro, estacionado, espero que aquela jovem senhora saia do banco, e ouço o diálogo.
- Só quero falar com a senhora
Ele terá esta muleta ao longo daquela primeira ou segunda garrafa. O garçom troca a cerveja. Ele levanta o polegar.
- Passar eu passo, mãe.
....
- É um novo vestibular, um novo curso.
- Mãe, quero apenas que a senhora me ouça.
A conversa já tem mais de cinco minutos. Ele insiste em ser ouvido.
- Vou concluir este. É um compromisso com a senhora.
- Mãe, por favor, agora, neste momento, mais do que nunca, preciso...
Ele levanta e senta. Não dá sinal de nervoso. Apenas levanta.
-.... sim, é de dinheiro mesmo. A matrícula encerra-se amanhã.
.....
- Ouça, mãe, é o meu futuro.
O garçon troca a garrafa mais uma vez.
O dedo sobe. Positivo. O garçon sai.
......
Ouviu o barulho da ligação do carro. Ele volta-se para mim.
Olha. Sorri. Faz um sinal de positivo.
Ganhou mais um cúmplice, além do garçon, claro.