terça-feira, 10 de maio de 2011

O TEXTO


E seus momentos








A leitura possui vários momentos. 

Em um dado momento, um determinado texto possui uma determinada carga de impacto. 

Aquela leitura. A primeira leitura, um ambiente e/ou uma situação se terá, em relação ao texto, impactado ou deflagrado por ele, uma resposta determinada. 

Esta situação jamais se repetirá, embora ela possa ser duradoura.

Num experimento, ao provocar, deliberadamente, a perda do escrito, as referências ao texto (em seu momento original de primeira leitura em um ambiente determinado) tornar-se-ão vagas e levarão a uma busca de memória do que foi escrito e do que foi lido, em busca de sua carga emocional e de seu valor estético.

A distância ao aumentar, em termos gerais, de tempo e de situações, em que aquelas emoções presentes (na ocasião primeira) perdem-se, a recuperação desta memória do que foi lido gera

1º. A tentativa de recuperação para produzir a comparação.

2º. A tentativa de recuperação da memória da primeira leitura, do ambiente e/ou da situação.

3º. Como na constatação primária de que “o livro era melhor do que o filme” aqui também se constatará de que aquela primeira leitura do texto era melhor do que a segunda, embora os dois sejam o mesmo e nada se tenha acrescentado o diminuído no mesmo.

Neste texto de Oswaldo França Júnior isto nunca acontecerá.

Cada leitura será sempre uma leitura única. 

Uma pequena grande obra-prima.

A minha pergunta é: por que?




Eu não o conheci
de Oswaldo França Júnior


Meu filho foi embora e eu não o conheci.

Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo.

Agora que sua ausência me pesa, é que vejo como era necessário tê-lo conhecido.

Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.

Um dia, na sala, ele me puxou a barra do paletó e me fez examinar seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.

Uma outra vez me pediu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo.

Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete, dormindo e abraçado ao brinquedo velho.

O novo estava a um canto.

Eu tinha um filho e agora não o tenho mais porque ele foi embora. E este meu filho, uma noite, me chamou e disse:

Fica comigo. Só um pouquinho, pai.

Eu não podia; mas a babá ficou com ele.

Sou um homem muito ocupado.

Mas meu filho foi embora. Foi embora e eu não o conheci.





Fim.