terça-feira, 27 de dezembro de 2011

DUAS PORÇÕES



I

Ribamar está por perto

Atento à rima, atento ao tempero

Ribamar aproxima-se

Se o verso é bom, ele para,

ouve, decora e volta a caminhar

no pátio da prisão, no horário,

na sua caminhada diária




                                       II





Não vou negociar verso
se não negociei opinião,
se não fui negociante,
mesmo sendo jornalista



O editor diz, poesia não vende

- Não vou vender poesia





Não vou fazer poesia no mercado

por respeito ao mercador

das abóboras e da melancia


Alimentos substanciais

dispensam métricas, rimas

e outros recursos,

ilusões, mentiras





Alimentos são verdadeiros

uma melancia é uma melancia

manga espada não é manga ubá



não vou dizer sons,

nem letras coloridas

palavras na frente de paisagens

é privilégio, é muita emoção

muitas a fazer, muitos a compor

a solidão da poesia basta-se