domingo, 3 de março de 2013

POEMA DE VER




A velocidade do olhar









I

Esta sombra na montanha

Este ar, esse cheiro, este gosto

Não é ar nem sombra, cheiro ou gosto

De um homem comum





II


À tarde subi para a cela

Pensar no ano que acabou

Planejar o ano que começa



III


Subi as escadas

escapuliram aos meus pés

dois degraus

dez degraus

todos os degraus

dessas intermináveis escadas


IV


Subi imensas e lógicas referências

Mas o ano passado, passei preso

- Este ano? Não sei

Posso pensar, então, em quando sair

para quando sair


V


Amigo, um ano são dias somados aos dias

(Não existem noites aprisionadas)

- Os sonhos são livres?

É verdade. 

Um ano é isso tudo, esse monte de dias

Acabarei a carta para Malu

Não sei falar do ano que passou


VI


Ninguém entenderá jamais

um homem encarcerado

Só, isolado e o seu pensamento


VII


Ah! Pensar?

Isto, penso, pensei, penso e sonho



VIII



Tive os melhores companheiros

Nenhum tão amigo e humano como Dante

Em troca não correspondi na amizade

e me apaixonei por Beatriz.

Como fui feliz!


IX


Cheguei nesta prisão em agosto.

Metade do ano

Aqui, o ano acabou

Esse ano que vem aí me ensinará 

outras coisas




No ano que passou,

aprendi como se faz um bom licor.

Aprendi também a conhecer as pessoas

Aprendi o mundo

fantástico da nossa gente

Soube quem foi Samível.



X


Feito num dia de sol

igualzinho pelo brilho

o mapa me ensinou a sonhar

na velocidade dos olhos


XI


A revista me trouxe as mulheres

-         a respiração para todo os pulmões -

 e a interjeição fecunda

suspensa no colapso da imperfeição