Como fazer
Rogério Conrado
Se eu fosse poeta
faria versos como quem luta
Não faria poemas apenas versos de amor
ou de dor ou de paixão
e nem mesmo de morte
faria, sim, versos
que explodiriam
uma grande revolta
contra este mundo sujo
onde pessoas sobrevivem podres nas ruas
Se eu fosse um poeta e cantor
não iria cantar
só o orgasmo da mulher amada
ou
desamada
não cantaria, apenas, seu olhar
sua boca de
desejos
cantaria suprema alegria,
entusiasmado desejo de felicidade
cantaria a fé, que não se quebra, no homem
nem qualquer homem,
nem aqueles que construirão um mundo
- que sei feliz -
Não imagino
Se eu fosse um poeta e soubesse escrever
não escreveria
palavras alegres ou as cenas
da amizade, do bar, do teatro,
da
escola, da cama, do trabalho
da praia
não escreveria
sobre pessoas, escreveria mais
seriam
palavras como armas, como projéteis
projéteis
que na minha guerra não matariam
este meu
adversário que explora
o outro
projétil libertador de um e outro
Bala fulminante, destruindo
a
ignorância fulminante
Se eu fosse um poeta
meus poemas retratariam
seu gesto carinhoso
seu gesto carinhoso
afago gostoso,
o só sorrir de uma criança
de uma nossa
criança
retrataria mais
a angústia das nossas derrotas
a falta de comida, o não fazer nada,
nada que se torna doloroso.
Se eu fosse poeta
ou soubesse escrever
ou soubesse cantar
Cantaria para
Rosa
Hortência
Margarida
Para Acácia também
Cantaria para
Rosa
Hortência
Margarida
Para Acácia também