quarta-feira, 7 de maio de 2014

A POESIA ERA SUA ARMA



Oliveira Martins



Para Laura Gomes, em Lima, Peru



Ele era o intelectual. Sabia detalhes da vida de Fernando Pessoa e, suas poesias, ele declamava, sem nenhum temor em tirar ou acrescentar palavras e versos para ajudá-lo na interpretação.

Fernando Pessoa ficava melhor e palatável assim dito naquele cenário de cárcere. Contávamos também histórias sobre um escritor argentino chamado Jorge Luiz Borges. Ainda um desconhecido, então.

Ele exercitava-se narrando para nós as notícias do dia, o que ele lia e decorava. 

Tirava as dentaduras e fazia papel de velho. 

Interpretava falas de Sófocles e escrevia versos de Bilac e Castro Alves.

Viva Vitor Hugo!

Gritava e coloria as paredes da cela com versos que, segundo ele, se observássemos atentamente, todos tinham cores.

“Versos têm cores, têm texturas, nervos, assim as palavras poéticas são”.

Ezra Pound, preso, libertou a poesia, assim como Camões.

Ele nos surpreendia com os seus pensamentos que nos alimentava e provocava..

Quando foi embora, deixou seus bens divididos. 

A cama, o lençol e as outras peças da cama para um, seus livros para outros, para O amigo Bonifácio,  ele deixou um pedaço de papel.


Um recado:


“Isto é mais seu do que meu. 

Isto eu extraí de você: a vida, 

a vontade de viver, 

a esperança de viver, 

a alegria de viver 

e a certeza de que somos 

apenas eternos guerreiros da paz.

Somos só sobreviventes, 

apenas sobreviventes. 

Isto se conseguirmos sair desta mais uma vez. 

Boa sorte, amigo”.