Quem
cuida de quem
Dona Mirtes
(Falas imprecisas e repetitivas)
“Poeta é
justamente o homem
que cria as regras poéticas”
que cria as regras poéticas”
Como fazer versos, Maiakóvsky
Vou
lavar as vasilhas
Depois,
vou lavar as roupas
Mais
tarde, vou te dar um banho
Lavar
as suas merdas
Deixar-te
cheiroso
Sou
seu anjo
Sou
seu demônio
Quem
vive contigo?
Quem
te tira a dor
e
a ansiedade?
Quem
fala que a vida é bela,
Quem
fala que é para ser vivida?
Fique
aí. Não saía daí.
Leia
o teu jornal
como
fazes
todas
as manhãs, tome
teu
café, coma o ovo.
Como
fazes todas as manhãs,
ouças
estas orações que jamais,
em
qualquer tempo,
acreditastes
ou gostastes!
Reze,
agora!
Sei
que não rezas.
Ouças
o noticiário!
Sei
que não ouves
senão
só os sons, apenas sons
e
algumas palavras dos filhos!
Sei
do teu silêncio!
Esta
tua vida vivida, doutor!
Teus
olhos percorrem a casa,
sabes
mais, muito mais do que eu.
Nossa
diferença é pequena,
é
apenas a vida mais vivida
e
essa mágica indiferença.
Vou
lavar os pratos!
Vou
abrir a torneira
deixar
a água cair em jatos fortes!
É
o movimento! São os sons!
É
a vida!
As
descobertas não mais te surpreendem?
Surpreendem?
Todas as verdades
não
são tão importantes
não
são tanto verdadeiras
como
imaginávamos
Triste
foi a vida perdida
por
tantas bobagens
Tanto
tempo, tanto mar!
Ela
olha para ele
é como
se não o olhasse
Ela é
tão superior
É
nova, lava pratos,
lava
panos
É nova
e ele é velho,
é
doente, mal consegue andar.
Ela é
nova,
lava
pratos, panos e tristezas!
E ela
é a dona Mirtes.
Ela é uma assassina e fugitiva.
Ela é uma assassina e fugitiva.
E mais
uma vez fugirá.
(Do poema, não escapará)
(Do poema, não escapará)