Fogo aceso, brasa
Otto
de Albuquerque
Tanto de meu estado me acho
incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e
rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.
O mundo todo abarco, e nada aperto.
É tudo quanto sinto um
desconcerto:
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu
voando;
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.
Se me pergunta alguém porque
assi ando,
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora
(Camões)
Otto
Lendo com mais calma e
profundidade, me permito ousar e pensar que vc mandou este poema pra mim
com dupla intenção. Ou seja, devo decorá-lo para melhorar minha
memória sim, mas também é para ser entendido como um recado, uma declaração.
Tenho razão, ou é fruto de um querer meu?
Todo ele é a sua cara. Aliás, a
cara dos grandes e lindos/pobres/tristes poetas: um revelar-se se
escondendo de si mesmo o tempo todo. Um medo de dizer o que sente claramente,
de ver seu próprio rosto refletido no rosto do outro, de não ser ouvido, nem
sentido, nem percebido.
Um medo de não ser nada,
enquanto se é tanto! Uma dissimulação sem fim de gestos, palavras, olhares que
não sejam apenas aqueles que a gente pode ver, ouvir, tocar, mas nunca ter
certeza deles.
Essa sutileza em você me
encanta.
Esse seu jeito de observar e não querer se deixar observar, me
intriga.
Mas eu encontro você, por mais
que tente se esconder de mim. Te encontro num olhar, numa pergunta, numa
fala.
Você receia me provocar
uma possível reação e assim se esconde atrás de brincadeiras para tentar
desviar-me do foco (fogo aceso, brasa)
do sentimento que ainda faz doer meu coração. Pouco, com certeza. Não
porque o amor é menor hoje. Acho que não.
Por ter certeza de que não
conseguirei nunca que você deixe de ser apenas o poeta dissimulado,
fumaça, cheiro, para cair nos meus braços, antes que esse ambiente da
única verdade que conhecemos aqui - a vida da forma que ela nos mostra -
se deteriore, se esvaia.
Beijo,
Arlete
Ainda
Camões, uma nota biográfica:
Camões,
Violante, Joana, Antônio e Francisco.
Camões
amou Violente, mulher de Francisco.
Camões
amou Joana, filha de Violante e de Francisco e irmã de Antônio.
Antônio
morreu com 17 anos.
Camões,
a ele, Antônio, dedicou muitos poemas.
Francisco
era um nobre português e corria em seu sangue o sangue de mais de 90 reis.
Segundo
Conde de Linhares, Francisco era um diplomata.
Violante
amou Camões e amou muitos outros serviçais e não serviçais.
Camões
morria de ciúmes.
Violante
descobriu que Camões e Joana se amavam.
Faria
e Souza, biógrafo de Camões, décadas depois da morte de todos os personagens do
romance múltiplo, mesmo morando em Madri, foi penalizado por tratar do romance
entre Camões e Violante.
Os
costumes, costrumes, estrumes,
A
evolução dos costumes...