terça-feira, 20 de novembro de 2018

VER É AMAR


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Fogo aceso, brasa


Otto de Albuquerque



Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto:
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.

Se me pergunta alguém porque assi ando,
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora

(Camões)



Otto
Lendo com mais calma e profundidade, me permito ousar e pensar que vc mandou este poema pra mim com dupla intenção. Ou seja, devo decorá-lo para melhorar minha memória sim, mas também é para ser entendido como um recado, uma declaração. Tenho razão, ou é fruto de um querer meu?

Todo ele é a sua cara. Aliás, a cara dos grandes e lindos/pobres/tristes poetas: um revelar-se se escondendo de si mesmo o tempo todo. Um medo de dizer o que sente claramente, de ver seu próprio rosto refletido no rosto do outro, de não ser ouvido, nem sentido, nem percebido.

Um medo de não ser nada, enquanto se é tanto! Uma dissimulação sem fim de gestos, palavras, olhares que não sejam apenas aqueles que a gente pode ver, ouvir, tocar, mas nunca ter certeza deles.

Essa sutileza em você me encanta.

Esse seu jeito de observar e não querer se deixar observar, me intriga.

Mas eu encontro você, por mais que tente se esconder de mim. Te encontro num olhar, numa pergunta, numa fala. 

Você receia me provocar uma possível reação e assim se esconde atrás de brincadeiras para tentar desviar-me do foco (fogo aceso, brasa) do sentimento que ainda faz doer meu coração. Pouco, com certeza. Não porque o amor é menor hoje. Acho que não.

Por ter certeza de que não conseguirei nunca que você deixe de ser apenas o poeta dissimulado, fumaça, cheiro, para cair nos meus braços, antes que esse ambiente da única verdade que conhecemos aqui - a vida da forma que ela nos mostra - se deteriore, se esvaia.

Beijo,

Arlete





Ainda Camões, uma nota biográfica:



Camões, Violante, Joana, Antônio e Francisco.

Camões amou Violente, mulher de Francisco.

Camões amou Joana, filha de Violante e de Francisco e irmã de Antônio.

Antônio morreu com 17 anos.

Camões, a ele, Antônio, dedicou muitos poemas.

Francisco era um nobre português e corria em seu sangue o sangue de mais de 90 reis.

Segundo Conde de Linhares, Francisco era um diplomata.

Violante amou Camões e amou muitos outros serviçais e não serviçais.

Camões morria de ciúmes.

Violante descobriu que Camões e Joana se amavam.

Faria e Souza, biógrafo de Camões, décadas depois da morte de todos os personagens do romance múltiplo, mesmo morando em Madri, foi penalizado por tratar do romance entre Camões e Violante.

Os costumes, costrumes, estrumes,

A evolução dos costumes...