
Guerra faz guerreiros e a paz....
Para Oliveira Martins
Ele era o intelectual. O Cérebro. A Memória. Sabia de detalhes da vida de Fernando Pessoa e, suas poesias, ele declamava, sem nenhum temor em tirar ou acrescentar palavras e versos para ajudá-lo na interpretação. Fernando Pessoa ficava melhor e palatável naquele cenário de cárcere. Contávamos também histórias sobre um escritor argentino chamado Jorge Luiz Borges. Ainda um desconhecido, então. Ele exercitava-se narrando para nós as notícias do dia, que ele lia e decorava. No exercício da memória era capaz de repetir o jornal da última para a primeira página, notícia por notícia. Tirava as dentaduras e fazia papel de velho. Interpretava falas de Sófocles e escrevia versos de Bilac e Castro Alves. Viva Vitor Hugo! Gritava enquanto coloria as paredes da cela com versos que, segundo ele, se observássemos atentamente, todos tinham coloridos. “Versos têm cores e texturas, assim como as palavras, as palavras são em si poéticas”. Ele nos surpreendia com os seus pensamentos que nos alimentava.
Quando foi embora, deixou seus bens divididos, a cama, o lençol e as outras peças da cama para um, seus livros para outros, para mim, ele deixou um pedaço de papel.
Um recado:
“Isto é mais seu do que meu. Isto eu extraí de você: a vida, a vontade de viver, a esperança de viver, a alegria de viver e a certeza de que somos apenas eternos guerreiros da paz, nunca, jamais, guerreiros da guerra... e só, apenas, não mais do que sobreviventes”.
Para Oliveira Martins
Ele era o intelectual. O Cérebro. A Memória. Sabia de detalhes da vida de Fernando Pessoa e, suas poesias, ele declamava, sem nenhum temor em tirar ou acrescentar palavras e versos para ajudá-lo na interpretação. Fernando Pessoa ficava melhor e palatável naquele cenário de cárcere. Contávamos também histórias sobre um escritor argentino chamado Jorge Luiz Borges. Ainda um desconhecido, então. Ele exercitava-se narrando para nós as notícias do dia, que ele lia e decorava. No exercício da memória era capaz de repetir o jornal da última para a primeira página, notícia por notícia. Tirava as dentaduras e fazia papel de velho. Interpretava falas de Sófocles e escrevia versos de Bilac e Castro Alves. Viva Vitor Hugo! Gritava enquanto coloria as paredes da cela com versos que, segundo ele, se observássemos atentamente, todos tinham coloridos. “Versos têm cores e texturas, assim como as palavras, as palavras são em si poéticas”. Ele nos surpreendia com os seus pensamentos que nos alimentava.
Quando foi embora, deixou seus bens divididos, a cama, o lençol e as outras peças da cama para um, seus livros para outros, para mim, ele deixou um pedaço de papel.
Um recado:
“Isto é mais seu do que meu. Isto eu extraí de você: a vida, a vontade de viver, a esperança de viver, a alegria de viver e a certeza de que somos apenas eternos guerreiros da paz, nunca, jamais, guerreiros da guerra... e só, apenas, não mais do que sobreviventes”.