sábado, 28 de novembro de 2009

LUÍSA E VOLK


1. Quem ama se expõe, revela o amor existente e o amor existente pode ser identificado, qualificado. É um amor roxo e é um amor belo, não é amor cinza e nem é amor feio. Identificado e qualificado, o amor não é mistério mais, é o que é. Se o amado esperava mais, se esperava uma revelação de um amor amarelo ou vermelho, decepcionarar-se-á.


2. O amor revelado, exposto, torna-se um amor vulnerável. O amor não é exatamente revelação? Ou haveria vários tipos e graus de revelação? Haveria, por exemplo, a revelação tipo desastrada em que uma pessoa declara um amor que, mantido discreto, teria vida longa, revelado esgota-se, inviabiliza-se, como os amores clandestinos, o amor de uma pessoa impedida de amar, por questões religiosas e/ou legais, que amando ou sendo amada, a revelação torna-se não uma revelação mas outra coisa: uma imprudência, no mínimo ou uma arma, que se disparará contra a relação.


3. O amor é revelação, é declarar-se, expor-se, ser sem depender. Revelação com conhecimento, cautela, balanço, avaliação, segurança. Declarar-se (e há mil maneiras de declarar-se além das palavras e da linguagem corriqueira) pode ser o grande momento, não que o outro não esperasse, talvez já soubesse mais, até mesmo, do que será revelado, declarado, confirmado - como pode ser o contrário, conforme item anterior. Expor-se quando se considera o desnudar-se, o ser inteiro, percebido, compreendido, eu amo e sou isso, meu amor é isto e não aquilo. Ser sem depender tornar mais complexo o entendimento, pois a dependência é uma relação complexa quando se trata de sentimentos, pois a palavra é fraca para revelar esta estranha ligação que não faz (embora faça) um ser dependente (escravo) de outro. É um ser sendo outro e se pode ser, em assim sendo, livre, é a emoção em ponto de efusão total, ser e ser o outro e ser livre.


4. É o caso de Luísa-Volk. É a declaração clara, nítida, apaixonada do amor imenso, de mais de 200 anos. É a revelação agressiva da paixão dominadora e que a domina, ela é vítima da paixão, é a escrava, é a mulher doméstica, domesticada, aberta a largar tudo, ser a mulher dentro de casa ( - Eu durmo feliz e acordo feliz, - Vol é bom de cama, mas não é só cama, depois ele é só estupidez, grosseria e desrespeito). Ela faz questão de alardear esta imensa felicidade de poder deitar e levantar, como mulher, sendo feliz (Vol não seria feliz). Ela faz questão de questionar o depois e o sexo como etapa, de dividir-se como mulher e como pessoa, de buscar as rédeas perdidas, nunca em sua mão. Fala sem parar, fala tudo o que lhe vem a cabeça e revela-se, totalmente, por inteiro, trazendo em si uma capacidade criadora, abortada, uma capacidade de amar, abortada. É um ser sem ser, que sabe das possibilidades, é uma artista sem expressão, amordaçada, inviabilzada e que tornou-se prisioneira da grande paixão por um homem animal, desconfiado e inseguro. A insegurança de Vol não seria alimentada por Lu?


5. O amor seria a vitória das emoções e há que esgotá-las para a possibilidade do desapego, do afastar-se (teatralmente) para o pleno entendimento (ou próximo disso).É a busca incessante do equilíbrio e do afastamento é uma arte e onde o representar (a la Stravinski) é o forte na busca do entendimento, sem ser a busca do domínio, embora haja domínio por se tratar de conhecimento. Conhecer é conter, ter, deter informações, análises, conclusões e possibilidades. É libertar-se.