Para Dante e Jean Paul, pensadores em nosso tempo
Sou um homem trancado na cela de uma prisão policial. Lugar preparado para guardar homens que devem permanecer incomunicáveis. Nada mudaria em trinta anos ou em sete anos? Raramente aparece uma pessoa. Estas paredes, frias e sujas tornaram-se páginas de homens desesperados, há um apelo trágico, a denúncia de um crime, anotada bem próximo ao chão, talvez por uma pessoa agonizando. Está escrito o relato do assassinato de Cub. Quem é Cub? Ou Cub abrevia algo. O que significam estas letras? Qual era a esperança do homem que agonizando escreveu aquele relato? Marcas de sangue na parede. Aqui é o décimo círculo do inferno, um círculo onde os horrores não podem ser descritos. Um círculo em que todos se mancham com o sangue de todos e com tudo o que há de podre e de apodrecedor. A manta que me cobre está encharcada com muitos suores e lágrimas. Tem partes duras. A manta acumula quantas tragédias e dores?! Muitas vezes acordo e, com olhos cruéis, eu vejo escapar de minhas mãos os meus sonhos de cidadão. Em frente às grades, um muro caiado. Antes, ele era branco. Os círculos são marcas, cicatrizes, de fugas ou de tentativas, marcas de que a dignidade não nos escapa de todo. Quando acaba a incomunicabilidade, todos aqueles homens carregam o peso da solidão, de sangue e de lágrimas solitárias, sem identificação, sem sentido, sem visibilidade. Quando se sai da solitária, sobreviver já é outro castigo e, então, começa a peregrinação pelas celas das grandes cidades. Quando a prisão acaba, outro gosto amargo irá indicar em cada espaço uma nova prisão. A mais cruel das prisões, a vida. É este o homem condenado à liberdade, porque ele se percebe, vê e se revela em suas limitações e em suas prisões, mas que arrebenta sempre as paredes, vence as solitárias e que escapa todos os dias, em todos os grandes momentos da vida. O aprendizado da liberdade se faz ao despertar na prisão ou não, na solitária ou não, no mar ou não, na praça ou não. O aprendizado da liberdade é o ato, a própria liberdade e ela é a vida.