quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O HOMEM, A FORMIGA E O CANAVIAL





O céu da manhã é o colosso. Na estrada, a terra amarela espera que o vento pequeno e vagaroso chegue e revolva-a. Na estrada, um homem claudicando transporta a solidão pesada, gregária, cansativa. Aproximou-se do canavial. Parou para descansar tanta solidão. Apesar da fome, não teve forças para entrar no canavial. Primeiro, descansar. Dormir. Duas formigas passavam e estranharam a indiferença do homem faminto e só. A formiga filosofou, trata-se de um poeta e não se alimenta senão da poesia. Depois, então, procurará o canavial. Tentou despertar o homem, pois ela sabia que homem morre de inanição e de solidão. Nada, o homem dormia seu sono de séculos. A formiga, que filosofa e come folhas e recolhe folhas, e sua companheira continuaram seu caminho. O sol alteou, foi lá no alto e desceu. Afastava-se e tornava-se menor do que a sombra e o escuro. O sol dobrou a outra fronteira. Entraram naquele espaço apenas as estrelas. A formiga que filosofava, terminado o seu trabalho, ficou ali à espera do despertar do homem, ela queria se entender com o homem. O homem levantou, viu a formiga, chutou a terra. A formiga, esperta, tentou escapar. O homem pisou na formiga. Ele entrou no canavial, escolheu as mais fáceis de cortar. Chupou a doce cana caiana. E o homem e a sua solidão voltaram para a estrada.