sábado, 12 de dezembro de 2009

CONTABILIDADE

Cálculo macabro Ode à resistência 

Para Olegário Pacheco em sua "voadeira" cruzando as águas amazônicas


Estranhos momentos de homens

De braços que não são braços

Mãos que se deslocam do corpo

Atravessam pântanos,

Longe dos corpos

Olhos que vêem e não sentem, não sabem

Não são dos homens e são olhos

Homens

Homens?

Completados por equipamentos

Máscaras e que abraçam frios metais

E que não sentem o cheiro de corpos

Fuzilados, explodidos

Mãos que lavam meias e cuecas

Exibindo

Estranha coragem

Mítico poder

Os mais fortes

São os mais fracos

Eles sequer se suportam

A vergonha é aquela gosma

Presa, incômoda, colada em seus

Estômagos, em suas cabeças

E que bloqueiam tudo

Menos a glória

Menos a quase glória

A suposta glória

Jamais serão os vencedores

Pois não encontram os vencidos

Não encontram os derrotados

Ágeis saqueadores

De passados que não têm

De riquezas que gritam possuir

Ladrões, homens sujos com sangue nas mãos

Cospem em suas próprias caras

E se lambuzam de merda e de dólares

Sujos e porcos, podres e mentirosos

Eles sabem quem são

E temem a si próprios

Sabem que lhes roubaram também

Medíocres e parvos,

Sabem apenas o que calçam

E o que ouvem

Sabem apenas chorar suas lágrimas

Para dentro

Eles têm vergonha também

São homens também

- O mundo precisa, com urgência, acreditar –

É verdade

É verdade

Estes merdas são homens

Peidam em suas próprias bocas

Mas são homens

Quase homens

Imitação

Eles parecem homens

E são sujos e porcos

Não vivem suas vidas

Não vivem suas histórias

Estão por aí espalhados em invadir,

pisar,

destruir,

roubar,

pilhar

e são sujos.

 

- São eles.

- Somos nós?

 

São eles e custam,

cada um,

aos cofres do povo,

um milhão de dólares por ano.

 

Pior, valem o que custam

O retorno por cadáver é de bilhões

 

- São eles.

- Sim, sim 

- Somos nós?