
Cálculo macabro
Ode à resistência
Para Olegário Pacheco em sua "voadeira" cruzando as águas amazônicas
Estranhos momentos de homens
De braços que não são braços
Mãos que se deslocam do corpo
Atravessam pântanos,
Longe dos corpos
Olhos que vêem e não sentem, não sabem
Não são dos homens e são olhos
Homens
Homens?
Completados por equipamentos
Máscaras e que abraçam frios metais
E que não sentem o cheiro de corpos
Fuzilados, explodidos
Mãos que lavam meias e cuecas
Exibindo
Estranha coragem
Mítico poder
Os mais fortes
São os mais fracos
Eles sequer se suportam
A vergonha é aquela gosma
Presa, incômoda, colada em seus
Estômagos, em suas cabeças
E que bloqueiam tudo
Menos a glória
Menos a quase glória
A suposta glória
Jamais serão os vencedores
Pois não encontram os vencidos
Não encontram os derrotados
Ágeis saqueadores
De passados que não têm
De riquezas que gritam possuir
Ladrões, homens sujos com sangue nas mãos
Cospem em suas próprias caras
E se lambuzam de merda e de dólares
Sujos e porcos, podres e mentirosos
Eles sabem quem são
E temem a si próprios
Sabem que lhes roubaram também
Medíocres e parvos,
Sabem apenas o que calçam
E o que ouvem
Sabem apenas chorar suas lágrimas
Para dentro
Eles têm vergonha também
São homens também
- O mundo precisa, com urgência, acreditar –
É verdade
É verdade
Estes merdas são homens
Peidam em suas próprias bocas
Mas são homens
Quase homens
Imitação
Eles parecem homens
E são sujos e porcos
Não vivem suas vidas
Não vivem suas histórias
Estão por aí espalhados em invadir,
pisar,
destruir,
roubar,
pilhar
e são sujos.
- São eles.
- Somos nós?
São eles e custam,
cada um,
aos cofres do povo,
um milhão de dólares por ano.
Pior, valem o que custam
O retorno por cadáver é de bilhões
- São eles.
- Sim, sim
- Somos nós?