quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

RESGATE




Só resta a ternura



“Hay que endurecerse pero
sin perder la ternura jamas”

Ernesto Che Guevara

“ nos braços do amado, ela miraba a la puerta
a espera de que la ternura entrasse”
J Guillen






O fim da ternura
Ninguém dispõe da ternura
nem para olhar
muitos nem mesmo conseguem a ternura
para amar
No amor,
só o amor ato puro



Ninguém dispõe de ternura
para andar nas ruas
muito menos nas paradas dos ônibus
somos tão estranhos
que mais atenção daríamos
a um marciano
do que ao que está do nosso lado
não temos ternura nem para olhar





Sem ternura o homem não deixa de ter
passos firmes
Não deixa de ter rumos
passos largos
Nada disso,
Muitos até parecem homens completos
Seres íntegros
Como nos museus de cera
Homens de Neanderthal, atuais
Caminham entre outros homens medievais
Homens lobisomens
do futuro em outras órbitas



A ternura não é imprescindível
A ternura atrapalha
Para alguns é ser menos
Outros jamais a tiveram
Nem em seu gesto
Nem em braços amantes



Para que a ternura
se minha boca é amarga
se só me basto
se a solidão persiste
se a aventura do outro
é mais tenebrosa do que navegar
por mares nunca dantes navegados




“...sin perder la ternura jamas!”
Não adianta mais,
a ternura perdemos em La Higuera,
dois balaços, três balaços,
quatro balaços, cinco balaços.
Como dói o meu peito, como queima a neve!




Dois, três, mil Vietnãs!

Aqui, nas ruas streets de Mahatman
aqui na Calle Parador,
ali na rua da Alfândega
na avenida Sebastopol
na praça da Paz Celestial
aqui, no meu ponto de ônibus,
no peito o rosto de Che!
Mais do que “que mil?”, centenas de milhares
de rostos se espalham nos peitos
como cicatrizes no abdomem do bravo lutador
visto pelos bilhões de rostos pregados no aparelho.

São rostos, vestes e imagens de um homem
que queria apenas resgatar a ternura
agora perdida
para mim
para o meu sonho
para a minha saudade.

É por isso que eu te afirmo
ser os versos de Guillen,
os mais belos dois versos
construídos e arquitetados

depois dos outros dois versos.