Sem olhos, sem mãos
Ela saiu da minha vida
saindo,
simplesmente saindo
Se antes chorou muito,
na saída sorriu
Saiu e eu nem percebi
que se afastava uma mulher linda
perdidamente linda e feliz
Eu não soube dizer sim
Vi que a beleza desaparece
Vi que a felicidade escapa
O momento da certeza de já não ter
é hora maldita
O certo vira errado
O feio vira belo
O belo torna-se medonho
Há desespero, sim.
Há muito desespero
É o do homem com o painel da vida
Instante final do afogado
Instante final do suicida
Passos de um condenado
Ranger da escada da forca
A mulher se afasta
As mãos já não mais nas suas mãos
Nas suas mãos,
o coração de quem também saiu
É dor demais para um homem
perdidamente apaixonado
pela só paixão
Triste tristeza do cálculo
malfadado
Tudo certo, tudo errado.
Não há frieza na hora
em que mãos se desfazem
Olhares que jamais se olharão
em busca de sonhos e ternuras
divididas, multiplicadas,
enlouquecidas.
Triste quando no balanço final,
como uma criança, um homem chora.