terça-feira, 4 de maio de 2010

VERSO, INÚTIL TORTURA

Lígia, da elegia












A partir de Dante Milano









Não é o nome


a impregnar o corpo






Nem o verso


domina ou viola






Não há magia














Corpos permanecem


de amor


dotados para o toque


de todos os amantes


para todas as volúpias










A forma é a mesma


O prazer sempre eterno


Não disciplina,


Não exemplifica,


Não ensina


Ensina, exemplifica e disciplina










Ninguém possui


ninguém


em palavras


possui em sons, murmúrios, gemidos


em tão inteiros poemas


sagrados, profanos, verdadeiros






















Agora, o poema de Dante Milano










Elegia a Lígia





Lígia, teu nome de elegia

Te dar ao corpo moço um ar antigo

E cria em meu ouvido lento ritmo

Que me arrasta o absorto espírito

Para o verso e sua inútil tortura.

























Quem é Dante Milano



"Trata-se essencialmente de um poeta antilírico. A palavra lirismo é equívoca e exige uma conceituação pessoal. André Gide afirmava que sem religião não poderia haver lirismo. Preferia eu dizer que sem o jogo-do-faz-de-conta, sem o sentimento ilusório de que a vida tem um sentido, não pode haver lirismo. Dante Milano é o poeta antipoético, o poeta do desespero. Também este, o desespero, pode ser lírico, mas não o desespero seco, sem lágrimas como um soluço. Em todos os poemas deste livro, “Dante Milano. Poesia e prosa”, encontramos o mesmo timbre árido: em vez de sonho, o pesadelo; em vez da fantasia, a angústia; em vez de amor, um arremedo de posse bruta. O próprio poeta se espantou há muitos anos, quando lhe disse, com admiração, que a sua poesia me parecia sinistra. Releio agora os poemas, procuro cuidadosamente uma fresta lírica, um respiradouro, e chego à antiga conclusão: esta poesia é sinistra, nua, desértica."

Campos, Paulo Mendes [29 jan. 1972]. O antilirismo de um grande poeta brasileiro. In: Milano, Dante. Poesia e prosa. p.345-346.



Mais informações sobre o poeta: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dante_Milano