Lígia, da elegia
A partir de Dante Milano
Não é o nome
a impregnar o corpo
Nem o verso
domina ou viola
Não há magia
Corpos permanecem
de amor
dotados para o toque
de todos os amantes
para todas as volúpias
A forma é a mesma
O prazer sempre eterno
Não disciplina,
Não exemplifica,
Não ensina
Ensina, exemplifica e disciplina
Ninguém possui
ninguém
em palavras
possui em sons, murmúrios, gemidos
em tão inteiros poemas
sagrados, profanos, verdadeiros
Agora, o poema de Dante Milano
Elegia a Lígia
Lígia, teu nome de elegia
Te dar ao corpo moço um ar antigo
E cria em meu ouvido lento ritmo
Que me arrasta o absorto espírito
Para o verso e sua inútil tortura.
Quem é Dante Milano
"Trata-se essencialmente de um poeta antilírico. A palavra lirismo é equívoca e exige uma conceituação pessoal. André Gide afirmava que sem religião não poderia haver lirismo. Preferia eu dizer que sem o jogo-do-faz-de-conta, sem o sentimento ilusório de que a vida tem um sentido, não pode haver lirismo. Dante Milano é o poeta antipoético, o poeta do desespero. Também este, o desespero, pode ser lírico, mas não o desespero seco, sem lágrimas como um soluço. Em todos os poemas deste livro, “Dante Milano. Poesia e prosa”, encontramos o mesmo timbre árido: em vez de sonho, o pesadelo; em vez da fantasia, a angústia; em vez de amor, um arremedo de posse bruta. O próprio poeta se espantou há muitos anos, quando lhe disse, com admiração, que a sua poesia me parecia sinistra. Releio agora os poemas, procuro cuidadosamente uma fresta lírica, um respiradouro, e chego à antiga conclusão: esta poesia é sinistra, nua, desértica."
Campos, Paulo Mendes [29 jan. 1972]. O antilirismo de um grande poeta brasileiro. In: Milano, Dante. Poesia e prosa. p.345-346.
Mais informações sobre o poeta: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dante_Milano