Na portaria
O velho e a velha
todos os dias
descem para caminhar no sol
O espaço onde ela caminha
passos curtos
corpo vergado
O espaço onde ainda
a luz chega amarela
muito forte
agora cedo
O espaço se o há
é o espaço aberto
ensolarado
É o espaço curto
dentro do prédio
É cercado, não há perigo
Ela não escapará
do que lhe resta
Um espaço aberto sobre
esta cidade de um mundo
que amanhece
num domingo
silencioso
como todos eles
Ela silenciosa
como todas elas
caminha
Eles são dois,
o outro está num canto
e observa quem entra e quem sai
Ele caminha até seu lugar
aguardará o porteiro que não chega
Precisa saber notícias
das gentes que não são gentes dele
que contam histórias de dor
e de violências - tudo está lá fora
depois da porta de vidro
no alto do morro e em todo o morro
no boqueirão, onde vivem
aquelas meninas finas, peitos salientes
corpos macios e sedosos
que ele olha, olha, olha,
cujos cheiros são seus sentidos
felicidade, pura felicidade,
grande felicidade, maior felicidade
é a sua pequena caminhada
até a portaria.
Onde hoje só, sem o sol, a cadeira vazia
e um frio sem fim