sexta-feira, 24 de setembro de 2010

MANHÃ DE SOL

Na portaria











O velho e a velha


todos os dias


descem para caminhar no sol






O espaço onde ela caminha


passos curtos


corpo vergado






O espaço onde ainda


a luz chega amarela


muito forte


agora cedo






O espaço se o há


é o espaço aberto


ensolarado






É o espaço curto


dentro do prédio






É cercado, não há perigo






Ela não escapará


do que lhe resta






Um espaço aberto sobre


esta cidade de um mundo


que amanhece


num domingo


silencioso


como todos eles






Ela silenciosa


como todas elas


caminha






Eles são dois,


o outro está num canto


e observa quem entra e quem sai






Ele caminha até seu lugar


aguardará o porteiro que não chega






Precisa saber notícias


das gentes que não são gentes dele


que contam histórias de dor


e de violências - tudo está lá fora


depois da porta de vidro


no alto do morro e em todo o morro


no boqueirão, onde vivem


aquelas meninas finas, peitos salientes


corpos macios e sedosos


que ele olha, olha, olha,


cujos cheiros são seus sentidos


felicidade, pura felicidade,


grande felicidade, maior felicidade


é a sua pequena caminhada


até a portaria.




Onde hoje só, sem o sol, a cadeira vazia


e um frio sem fim