Como um jogo de xadrez
Esta estranha sensação em que não se consegue ficar mais em lugar nenhum, em todos os lugares em que se chega. É imediata a vontade de sair.
Ele sai por toda a cidade, sonhando em chegar na caverna, no seu esconderijo, onde, ultimamente, se sente melhor, sozinho. E mesmo ali não consegue ficar mais do que alguns minutos.
Sai para a casa paterna, na casa paterna é difícil quase impossível ficar, já pensa em ir para a casa dos filhos. Na casa dos filhos pensa em ir para a casa da Pula, na casa da Pula é pular e sair.
Sair para a rua, onde o que mais faz é caminhar, caminha, caminha e já queres ir para outro lugar, deste outro lugar já pensas em ir para o Tribunal, no Tribunal em ir para a editora, da editora em ir para a caverna, para o esconderijo. Em lugar nenhum sentes bem, não se sentes bem com o ar, com a terra, com o mundo, com este mundo. Sentir bem? Não é bem isto. É a sensação do exílio e só sabe que um dia foi estrangeiro – pode-se ser estrangeiro até em sua cidade natal. É a sensação da prisão, dos limites físicos da cela – de onde dificilmente escapas nem mesmo com a mais fértil imaginação; a não ser pela própria fuga (um direito de todo homem preso).
Então por que não fazes outro mundo? O que o impede? O que o impossibilita?
Fazer um outro mundo exige apenas criatividade - só.
Às vezes ser criativo é cansativo. Se os instrumentos da criatividade se limitarem às palavras, ah!, então, é, como assegura-nos Balzac, “escrever é mais difícil do que conduzir exércitos na mais grandiosa das batalhas de Napoleão”.
Observe as pessoas que escrevem. Observe os escritores de histórias infantis, os poetas, os romancistas que passam pelas editoras.
Chega um senhor, já velho, quase morto, cansado, trazendo um livro pronto, é o seu livro - apanhe este porque ele não é um escritor profissional.
Hoje, temos escritores com 27 anos e 31 livros, alguns de grande vendagem em todo o País.
Este senhor que carrega sua história tem do livro outra dimensão. Se decidiu-se sair de casa, com aquele calhamaço debaixo do braço, chega certo de que tem o livro, o seu livro, concluído.
O que é um livro para ele? Um bem precioso. Suas palavras, com toda a certeza, foram garimpadas, não estão entrando de qualquer jeito nas frases e as frases foram escritas mil vezes, desde que ele muito jovem, anotava, num pedaço de papel, em qualquer pedaço de papel, suas histórias, suas reflexões.
O que está anotado no livro tem vida e é verdade. É a sua verdade, mesmo aqueles casos estranhos, contados a ele por pessoas de credibilidade, às vezes, nem tanto, mas são histórias cheias de vida. A história da sua vida.