domingo, 17 de abril de 2011

UM HOMEM COMUM

 
E a sua prisão


Para todos os Mandela



Esta sombra na montanha
Este ar, esse cheiro, este gosto
Não é ar, nem sombra, 
cheiro ou gosto
para um homem comum,
feito prisioneiro


À tarde subi para a cela.
Pensar no ano que acabou
Planejar o ano que começa


Subi as escadas.
Escapuliram debaixo dos meus pés,
isto acontece sempre 
com todas as escadas


Subi imensas e lógicas referências


No ano passado, passei preso
(Cara, 365 dias dentro de uma cela)
E este ano não sei
Posso pensar, então, em quando sair
 para quando sair?


Brad Bil,
um ano são trezentos e sessenta e nove dias
(anote, tem quatro a mais sempre)


É verdade.
Um ano é isso tudo, esse monte de dias

Vou acabar a carta para Malui
Não sei falar do ano que passou
Ninguém entenderá. Um homem encarcerado
Só, isolado
... e o seu pensamento


Ah! Pensar, isto pensei
(Os pensamentos voam,
não se encarceram pensamentos)


Tive os melhores companheiros e nenhum
amigo e humano como Dante
Em troca não correspondi na amizade,
Nem no paraíso, nem no inferno.
E, assim, me apaixonei por Beatriz.


Fui feliz
Sabendo que todas as paixões são só paixões



Cheguei nesta prisão em um janeiro.
Início da esperança.
Aqui, sem mais nem menos,
o ano acabou


Esse ano que vem aí me ensinará mais coisas
sobre o inferno e o paraíso
(Com toda certeza, caro Dante)


No ano que passou aprendi como se faz um bom licor


Aprendi também a conhecer as pessoas
Aprendi o mundo
Fantástico da nossa gente
Soube quem foi Samível.


Feito num dia de sol
igualzinho pelo brilho
o mapa me ensinou a sonhar
na velocidade dos olhos


A revista me trouxe as mulheres
- a respiração para todo os pulmões -
 e a interjeição fecunda
suspensa no colapso da imperfeição
(na foto)