quarta-feira, 29 de junho de 2011

DEPOIS DO AMANHECER

Como Tom Jobim deixou seu piano
 em Nova York 
(Foto de Ana Lontra)




Qual o sentimento agora?

Estar vivo

É o vento

Vento frio
Agasalhador

É o sol de 9h

É o sol seu claro brilho

No chão de cimento


Estou vivo
É pouco e é muito
É nada e é tudo

É não responder,

Não sofrer e é sofrer


Estou vivo e olho o céu

Preservar a vida
Do filho que adoece

É lutar agora e lutar depois

Estar vivo
Resistência

Resistir a nada, sem forças

Resistir a tudo, até ao inútil





Agora, vão cortar a sua luz


A sua água, o seu telefone


Concretamente, você tem comida


E um lugar?


Você,


Felizmente,


Está vivo






A foto do lado de cima


As fotos de Ana Lontra, 


as fotos de Tom e os seus


objetos, o seu Tom e o seu ambiente,

O charuto, o piano,


Tudo é objeto

Na mira do olho

              Focaliza-se
      
           Enquadra-se

             Clica-se


Tudo objetiva-se na mira


Do homem que buscava chão


Era um homem 


Uma mulher fotógrafa – sua mais completa possessão.


(Agora, ela o guarda em arquivos e pastas)

As pastas amarelam, outras ficam roxas,


Outras apenas brancas


Folhas brancas e ao lado do lápis caído