A aventura na carambola
Seu Wilson, menino, olhava sempre a menina moça tomar banho. Banhos longos. A cada dia, dos banhos dela, ele extraia uma nova conclusão.
A primeirona quando constatou que quando ele não estava por perto, ela aguardava sua chegada para entrar no banheiro.
Todos os banheiros de fazenda eram, naquela época, construídos fora de casa.
Aquele tinha duas divisões, uma onde ficava o chuveiro.
No outro cômodo, o do vaso sanitário, era possível, por uma fresta na madeira, observar a pessoa que tomava banho e vê-la “inteira, inteirinha, inteirona”.
No outro cômodo, o do vaso sanitário, era possível, por uma fresta na madeira, observar a pessoa que tomava banho e vê-la “inteira, inteirinha, inteirona”.
Outra conclusão, recente, a segunda conclusão, quando ele não aparecia, os banhos eram mais rápidos.
Terceira e definitiva, ela sabia que era observada, comida com os olhos e gostava daquele observador que a colhia silencioso em sua respiração ofegante.
Daí, a sua decisão.
Entraria no banheiro por cima da divisão. Como o vaso sanitário era baixo, levaria um pedaço de madeira que serviria como suporte e escalaria a parede. Da parede a um pulo, olha ele dentro do banheiro junto com ela, nua, nuazinha, nuazona.
Entraria no banheiro por cima da divisão. Como o vaso sanitário era baixo, levaria um pedaço de madeira que serviria como suporte e escalaria a parede. Da parede a um pulo, olha ele dentro do banheiro junto com ela, nua, nuazinha, nuazona.
Para que ela não assustasse, um dia antes simulou uma escalada. Assim, ela sabendo da iniciativa, não se assustaria.
No dia exato, que era o dia seguinte, ele pulou.
E ele foi o surpreendido.
Ela reagiu com ferocidade e deu-lhe uma surra com a vassoura. Seu corpo ficou marcado, lanhado, rasgado, machucado.
- Vai lá e conta para o seu pai porque você apanhou – e deu a última vassourada na cabeça dele.
Ela dizia e repetia a mesma frase, dizia e repetia.
Seu corpo de rapaz, ainda menino, estava todo marcado. Todos iriam ver aquelas marcas. Como explicar? Como não ser humilhado?
- Cai do pé de carambola!
- Wilson, não é a primeira vez que toma essas quedas horrorosas. Escolha uma árvore mais fácil para você trepar, meu filho. Mais fácil, menor e mais segura...
-...E menos brava, menos violenta, meu filho.
Ele ouviu o conselho paterno. Entendeu. Em seguida, olhou fixo no rosto da mãe. Nenhum traço de que ela não estivesse segura de que sabia de tudo. Ela não sabia fingir que não sabia de nada.
....
Seu Wilson, mais de oitenta anos, magro, muito magro, anda e arrasta os pés, a cabeça dependurada no peito, quase pulando para o chão. Mas sempre ágil, no levantar.
Como não ouve direito, fala.
Como não olha no rosto do outro na sua frente, fala sem parar até terminar de contar sua história.
.....
Depois de um curto silêncio, a filha pergunta
- Quantos anos o senhor tinha, pai?
- 15 anos, com certeza.
Se Wilson não tem mais o que esconder, afinal são mais de oitenta anos.
- Eu já conhecia da fruta, fazia doce e me lambuzava todo, minha filha. A reação dela foi de susto, por mais cautela, por mais ensaio que fizera, por mais que ela sabia que eu iria dar aquele pulo dentro dela, dentro do banho dela.
Ele olha lá para 65 anos antes
- Um dia, percebi que ela deixara a porta do banheiro destrancada. Bati devagar antes de entrar e ela me receber. E de novo, veio o susto e a nova surra.
Moral da história deste homem que admira o salto de um gato para o telhado na sua frente:
- Mulher, menina ou moça, depois que começa a bater, nunca para.