terça-feira, 1 de novembro de 2011

UM LOUCO NA RUA



-         Bom dia, vovô.

Disse o Louco da Rua, alegre, sorrindo, ao passar por mim, na subida da rua Juiz da Costa Val.

Os loucos têm razão ou melhor, mesmo que não tenham razão, sempre dizem a verdade ou melhor ainda: dizem o que vêem.

Conhecesse minha história, a minha realidade, eu já sou avô há mais de 15 anos, a idade hoje da Tessa, filha do Adroaldo Neto.

Um avô sem alma (diferente de desalmado), sem presença, sem ternura, sem nada, se os netos, pois outros dois netos, Adroaldo Neto deu aos seus pais verdadeiros e à sua mãe.

E não sei se a minha filha, Maria Cláudia, mais velha do que Adroaldo Neto, tem filhos ou se os teve primeiro do que ele.

Não sei de nada, uma vez que de alguma forma há esta evidente, real, clara, distância (não indiferença, não desamor) entre eu e meus filhos – eu os vivo muito próximos, sempre penso neles e penso neles todos os dias, muitas vezes ao dia – e em tudo o que sempre perdi e fiz questão de perder.

A realidade, eu sou um avô, mesmo destemperado. O louco não sabia desta “abuelidade”. Só tinha razão – a razão é uma estranha loucura ou como diz Lutero, a razão é a prostituta do satanaz.

Por sua vez, ele me viu e disse sua afirmativa.

Identificou-me dentro dos padrões da velhice, em que todos os velhos podem ser avós, e ali, estava eu, cabelos grisalhos, subindo a rua, passos medidos, calculados, lentos, cada vez mais lentos.

Um velho.

Medindo as palavras talvez um novo velho ou um velho novo, ainda não totalmente velho, mas velho, como ele, um velho Louco da Rua, como o Louco da Rua que não consegue falar o nome da Cris e sempre a chamou de dona Cristântesmo.

Ele me conhece e, muitas vezes perguntou pela dona Cristântesmo.

Hoje, na subida, ele sorriu, identificou-me, antes de me cumprimentar, e, à sua maneira, carinhoso como os loucos o são, quase sempre.

Sempre verdadeiros no que vêem.


-         Bom dia, vovô.