segunda-feira, 19 de março de 2012

VOLUMES E CURVAS


Cicciolina


O corpo não é uma 
tela em branco


Rui Eduardo Paes

O corpo humano não é pro­pri­a­mente uma tela em branco, pela sim­ples razão de que não é liso e uni­forme. Há nele volu­mes e reen­trân­cias, zonas de luz e de som­bra, côn­ca­vos e for­mas, par­tes. Como tal, dis­põe de uma lin­gua­gem que lhe é pró­pria,  lin­gua­gem silen­ci­osa que o erotiza.
Se os seios têm um lugar fun­da­men­tal na ero­ti­za­ção do corpo da mulher é por­que se encon­tram em destaque…
Ora, a sexu­a­li­dade não é mais do que a fala deste corpo poli­forme. O órgão sexual por exce­lên­cia é aquele que nos garante a uni­dade cor­po­ral «dada a ver», a pele. E o que é um seio senão uma super­fí­cie de pele, com ener­va­ções extre­ma­mente con­den­sa­das e nume­ro­sas, sobre­tudo no mamilo, que o fazem tão receptivo?
A pala­vra seio, note-se antes de mais, pro­vém do Latim «sinus», que pos­suía o sig­ni­fi­cado de cur­va­tura, volta ou bojo, e dizia-se, no voca­bu­lá­rio da mari­nha­ria, em refe­rên­cia a uma vela de navio ou a qual­quer tecido enfu­nado pelo vento.

A ver­dade é que a nossa soci­e­dade hiper­va­lo­riza o seio. É a herança car­te­si­ana: temos a ten­dên­cia para particularizar.
Depois acon­te­cem os empo­la­men­tos e os feti­chis­mos, e aí temos toda a máquina publi­ci­tá­ria que uti­liza os seios femi­ni­nos para ven­der auto­mó­veis. Até no espec­tá­culo polí­tico os seios entra­ram, com o fenó­meno Cicciolina.
Em grande parte, tal é pos­sí­vel por­que os seios já têm por si um carác­ter dis­tin­tivo, mesmo na sua fun­ção «estra­té­gica» natu­ral. À seme­lhança de outras for­mas arre­don­da­das e até do tom de voz, são um sinal contra-agonístico, ini­bi­dor de agres­são, dis­tin­guindo o sexo femi­nino do masculino.
Enquanto as mamas dos pri­ma­tas só estão tume­fac­tas no período da alei­ta­ção, na espé­cie humana o volume do peito da mulher é per­ma­nente, pois esta dei­xou de ter as osci­la­ções de ciclo sexual que têm as fêmeas de oran­go­tan­gos e chimpanzés.

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