Até a mulher, o rio e o amor
-
Senti que minha pele se tornou um musgo
tenso e nervoso
tenso e nervoso
desses que vivem junto às poças
eu próprio parede, sombria
Para se chegar até mim
seria preciso deixar o sol
e penetrar a umidade
Mas quem me ama faz analogias
com um vestido de tafetá
(Presente de natal)
-
Eu um lugar no mundo
preciso - identificado
habitante
de um espaço
e o
próprio espaço habitado
Sempre
um espaço animado
sombrio
sombrio
triste e vagabundo,
alegre e sem brios
vieram
me dialogar,
numerar
numerar
distribuir-me
perigosos
para todo o país
para todo o país
Quais
são as suas propriedades?
Tudo
porque somos uns poucos
-
Senti e percebi ao tocar-me:
o sol saia de mim
o sol saia de mim
Meu
corpo perdido, sem espaço,
era luz-objetivo
era luz-objetivo
Eu
iria chegar até aquele milharal,
fazê-lo brotar
fazê-lo brotar
Restar-me energia
(do milho)
(do milho)
- Percebi muito mais
Por
exemplo, vi por trás
de
um sorriso
a grande tristeza bronzeada
-
Veio o mar bater
na parede da casa
na parede da casa
em
que durmo.
Atreveu-se a aproximar-se
Atreveu-se a aproximar-se
da
minha rede, levantei e dei-lhe um
chutão.
Covarde, com medo correu
para se juntar a outros mares.
Covarde, com medo correu
para se juntar a outros mares.
Com
medo do medo do mar,
apanhei minha rede e fui
apanhei minha rede e fui
estender-me
mais distante.
Vejamos agora.
Vejamos agora.
- Deixei a toalha secando na areia,
o
mar levou
Deixei
a menina queimando na areia
...
não, não foi o mar quem levou
Deixei
meus sonhos amontoados
numa barraca na areia
numa barraca na areia
a
brisa levou,
sonho por sonho,
grão por grão
sonho por sonho,
grão por grão
- Praia de Macapá
pequenininha
Do
tamanho, não maior,
da
babaca de Graça
-
No meio do rio
a
maresia
joga
para o alto
joga
para o alto
a barcaça, a
canoa/ a gente
de
repente a canoa da frente
se
alia ao rio, traiçoeira, e
joga
para o alto
joga
gente para o alto
joga
para dentro do rio
(Esta barca, navio,canoa aí em cima)
(Esta barca, navio,canoa aí em cima)
Pressa, correria,
tirem
da água
a
mulher aflita
e o
filho morto
preso
no abraço
amoroso - pavoroso
Sobem a mulher e o desespero
Até
hoje não sei
se
a mulher chorou
(não vi lágrimas)
(não vi lágrimas)
se
eu chorei
(não senti)
(não senti)
se todos choraram
(olhares celerados)
- Vi, vi, a mulher olhou, infinitamente,
para o rio
para o rio
Eu
vi, vi mesmo
E fiquei
com o seu olhar
colado em toda a minha pele
colado em toda a minha pele