quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A PERFEIÇÃO





A mais bela das mulheres fedia






Bruno Garcezy



Talvez, a mais bonita. 

Com certeza se comparada com a mulher do cinema e dos cartazes. 

Todos a apontam. 



É referência do belo, da beleza. 



Segmento áureo, razão de ouro.


Ela era muito mais bonita.



Somava ao falar o som do carinho. 


Ao caminhar arranca a terra de sob os pés de pernas trêmulas.


Era mais bonita e vivia em nossa rua.


Com ela, o dia era mais bonito do que os dias dos cartazes dos lugares mais distantes do mundo.


Tinha mais cor e nossos olhos iluminavam-se no reflexo dos olhares dela.

Ela cheirava. Tinha cheiro e sabor.


A moça do cartaz não.

Ela erguia os braços e ninguém entendia como era possível seres tão finos sustentarem tantas estrelas ali no nosso deserto de solidões.


Sempre ali, sempre ali, a mais bela de todas as mulheres que todos nós jamais conhecêramos.


Sempre ali e ela era a felicidade. Seus lábios tinham:



1. um sorriso;

2. uma colméia;

3. carne;

4. calor;

5. força;

6. suavidade;

7. meiguice;

8. mãos;

9. pernas;

10. boca;

11. volume;

12. elasticidade;

13. profundidade;

14. meiguice;

15. paixão;

16. meiguice;

17. ardor... complete... complete...  complete...


há quem saiba muito mais do que eu.


Seus lábios devoravam leões e crocodilos. 


Ela era a mulher mais bonita do meu mundo e de toda a minha vida.





Ela fedia também.