segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

NA UMIDADE

Egon Schiele



Rasgar     Rasgar



André Pimenta







O rosto virado e o beijo não dado


o beijo vai voa aos lábios.


Virados, recusam um pouso


por que?


um gesto,


um vacilo


por que?






Nos sonhos, o rosto que rejeita.


Há o nojo,


olhar cheio de ódio e mágoa


(uma conquista impossível)





No seu olhar, de noite, avança o desprezo,


só o desprezo


por que?


a dor rasga a dor


antes, a dúvida,


dúvida-dor




A porta entreaberta


o som ao longe, parte da chuva


chega do frio


E o cheiro da jaca,


O cheiro da noite


O cheiro do rio





Noite impossível.


A inviável noite de mil dias


onde atravesso?


Passo teus passos


a fala, a fala


fala sempre, sempre a condenação


é o pecado, senhor


o rosto recusa os lábios e não percebe



o olhar, a noite, o rio, o frio


e rejeita e não acorda



só sobra o calor do teu corpo gostoso


&


minhas mãos que te abrem no meio


&


meus dedos que se umedecem de ti.






Egon Schiele