quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

TUDO É VIROSE







Tantos Vírus



Eurico Mendes





Contrai uma doença chamada tristeza

Transmissível

pela tristeza de um filho


Hereditária

pela perda de uma mãe, de um pai,

um tio, um avô


Uma doença que chega

pelo olhar triste de uma criança











Ela se espalha como uma epidemia

quando o time perde um campeonato


Entranha-se nos sonhos

perde-se em terrenos baldios

cúmplice de vadios

mistura-se em muitas alegrias

até na mais triste de todas as alegrias

a alegria do palhaço

traiçoeira como a jiboia

que pula encantada

num golpe mortal

na garganta do encantador de serpentes


A tristeza é uma doença contagiosa

prolifera-se numa vida boa e a devora

Destrói como uma praga ou uma  peste

espalha-se como erva daninha


Engana a alegria

pede uma vida extensa, quer mais

entra por portas fechadas,

sem explodir cadeados


A tristeza não é alegria

engana aos poetas que seduzidos

entram vadios atrás de seus cantos

e de seus encantos, fazem-nos

morrer por um momento

a eternidade.



Amor perdido e dilacerado,

tristeza, que traça meus passos

nesta cidade de muitas árvores,

árvores de tantas folhas,

de ruas de muitas casas e cores,

prédios de muitas janelas e almas,

cimento, puro cimento, corroendo,

trancando, fechando, silenciando,

os gritos felizes dos amantes e

as tristezas saem vestidas de azul,

amarelo e de branco, em panos

cortados e em metais luminosos.

Triste. 

Muitas tristezas

sempre choram

todas as alegrias perdidas.