UMA VIDA PARALELA
Tomás Abujanra
Para Valda Vallejos, de Caracas, Venezuela
Como uma única folha caindo
em plena primavera
Como na brusca tarde em que o
sol dourado
embranqueceu,
empalideceu
completamentando
o fim
Como o corpo amante se
afastando
do corpo amado
do corpo amado
Como a agulha e o burro do
camelo
imaginando passageiro
imaginando passageiro
Como um barco submerso
pousando
lento no fundo
lento no fundo
Como o grito da carne rasgada
e do filho surgido
e do filho surgido
Como o espelho que reflete
mil espelhos eu vou
mil espelhos eu vou
colocar a
imagem daquela mulher
na história
na história
mulher que
me pertenceu pedindo
outonos na
outonos na
primavera
o
impossível de juras eternas
de um nunca abandonar
de um nunca abandonar
Dito com palavras que nada
significam
Submergindo lentamente nos
meus carinhos
Sofrendo em cada ato a
descoberta
de imagens sucessivas
de crianças nossas iguais
de crianças nossas iguais
Mulher que me pertenceu
como alma em outro corpo
como alma em outro corpo
Mulher que viveu tanto em mim
e do que extraia de mim
e do que extraia de mim
Hoje, distantes tantos
quilômetros,
é verdade a alegria
de verdade
Ontem, sozinho vi-me em
apuros
E se daqui a mil anos
um
encontro
eu não saberei nada nada nada
porque tenho comigo guardada
a esperança da vida
a esperança da vida
como o mar
como o inferno,
como a luta
Se eu chegar até você e você
Não se assemelhar àquela
mulher
sequer igual às feições
guardadas
Ao desviar-me de ti
Ao perder-me de ti
Acontecerá, então, tudo de
novo?
- Desconhecidos, somos desconhecidos
- Eu não conheci você e você
não me conheceu.