O poema em
minhas mãos
Horácio Horácio
Para Madeleine Strauss, de Udenhout, aldeia de Tilburg,
Holanda
O poeta me pergunta pelo seu poema
O poeta olha para os meus olhos
diante de mim
diante do poema
Atento, o poeta acompanha
a leitura e o leitor
Versos após versos
o olhar atento do poeta
me vê e me espreita
Leio Horácio
Ele pergunta,
pergunta silenciosa,
quase inaudível,
para quem jamais ouviu estrelas
Leio o poeta e ele olha
o poema em minhas mãos
Os poetas são assim
lambedores de cria
desesperados com o desafio
de serem lidos e amados
No poema, o poeta se deixa
apaixonar-se pelo outro
e o poema em suas mão
é a metamorfose e o consumir-se
no outro e o que lê o poema
é de novo o poeta que nasce
em um novo e outro poema
que o poeta jamais imaginou
que retiraria daquela oliveira
milenária, seca, seca e cheia de
frutos.