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Ribeirinha, Portugal |
No parque e na noite
Igor Nestroy
Para Maria Newton, nas praias de
Ribeirinha, Portugal
Brenda,
eu gostaria de ser sincero
Dizer
que nada disso é vulgar
As
árvores, finas,
e
as pernas, finas de Brenda
No
parque, no meio da grama
escondidos,
no escuro, da interrupção
Abrigo
de vagabundos, de amantes e
de poetas
Nas
pernas de Brenda, no centro
do existir
de Brenda
Todo
fogo apagado com suor e neblina
Veio
o vento e derrubou os eucaliptos
- Como
você se chama?
- Quitcha.
Desceu o avião em Carrasco
Seu nome? Quitcha?
Sandra de los Andes
Corre o carro
Como
pode ser tão bagunçada?!
Quitcha!
Outubro na praia do sol
Cara ou coroa?
Brenda ou Quitcha?
Cara
a cara com a areia
Sobe a representante no alto de nossas cabeças
Quem
sabe quando este discurso cala?
Quitcha?
Outra vez esqueci seu nome
Outra vez esqueci seu nome
TRISTINHA
Linda
no
espelho, no sorriso, na piada dos
políticosquesãopalitos
Minha
boneca,
eu
queria ver sua alegre alegria
Se
eu pudesse pintar o céu todas as manhãs
Se
eu pudesse coloriria os seus dias
Cada dia uma cor nova
Cada
dia o tom exato de ser a você
Até seus periquitos gostariam da ideia
Até
Fofoca ( cachorra ou sabão?) voltaria
Aos
poucos libertando-se do terror de ser amado
Aos
poucos recuperando o poder de poder amar
Linda
na
porteira e no jardim
Minha
na
poesia e em mim
CAMÉLIA inda não acordou
o
dia escapa-lhe entre os sonhos
Onze
horas
Camélia
inda dorme
Não, não vou acordar Camélia/não posso
Não
se permite/nenhuma ingerência
nos
sonhos de Camélia/ quando ela se levantou
rosto inchado,/ boca aberta/
Eu ganhei um sorriso
Eu ganhei um sorriso
Prédio
ruindo
Nenhum
grito
Ninguém
O
prédio ruim
até
superou sua altura
a
poeira e o silêncio
nenhum
apelo
a
morte aceita
a
morte sem dor
nenhum
gesto desesperado
nenhum
ato de heroísmo
nenhum
romance para a notícia
ninguém
ouviu o barulho?
Até
o ar conspirou
e
se fechou
queda
sem testemunhas
queda
sem sobreviventes
queda
sem escândalos
o
prédio nunca mostrou-se débil
simplesmente
ruiu
Raios
de cores brilhantes
romperam-se
por entre nós
separando,
confundindo, anulando
Raios
azuis, amarelos, vermelhos
Raios
de uma luz colorida
Raios
de tinta essência
Traído
pelo raciocínio falso
quando
a ideia era de jarro
Vendo
sumir aquilo que envelheceu
Oculta
a covardia no assalto
Aproximando-se
da miragem
Nervoso
perto da certeza
No
papel a palavra que desenhou
E a
palavra sem sentido, juntamento
de
linhas
A
porta aberta
por
onde sai
a
mulata sem compostura
a
voz da senhora
o
miado espichado
mulata olha o céu
e
nada vê mais branco
apanha
o balde
apanha
a vassoura
para
lavar a cozinha
da
patroa
A
senhora espreguiça
e
balbucia uma frustração
que
o chão e o teto entendem
retira
o lençol
ergue-se
a camisola da senhora
O
gato bebe leite
olha
o prato
e
enjoado sai pela casa
à
procura de um rato
à
procura de sol
vai
para a porta
o
gato da senhora
A
mulata sente uma dor
no
ventre
peida
no corredor da senhora
e
foge apavorada
(não
do peido)
da
senhora
Atropela
o gato
na
porta aberta
Quando
chegar o minuto
exato
de navegar
exato
de atravessar
quando
a hora for certa
tudo,
tudo, medido
examinando
a última ilusão
Quando chegar o momento
eu
não hesitarei, não recuarei
estejam
como estiverem o mar o céu
Ventos
passantes
escutai-me
a
estas horas
eu
amava
a
mais bela dona
e
hoje estou aqui
A
estas horas ela sorria
e
me dizia
(com
voz de loucura)
que
o amor era eterno,
Eta
ironia!
Uma
baita ironia!
Crédulo,
crédulo serei sempre
Palavra
no amar não são palavras
São
sons, sons, puros sons e suores.
A
estas horas
Perto
do meu corpo
o
corpo quente
da
mulher que amei
língua
ligeira loucura
A
estas horas
eu
dizia asneiras
e
ela sorria
e
eu brincava
na
vida, de viver
A
estas horas
eu
era louco
ela
era louca
porque
amávamos?
Amávamos
de verdade
Horas
passantes
escutai-me
agora
que estou só
apenas,
eu continuo louco
não
acreditando mais
em
nada do que é eterno
Então,
queria poder abraçar
(não
poder também foi bom)
é
que eu não sei se minhas mãos
seriam
bastantes e capazes
de
abarcar sua meiguice
de
surpreender sua esperteza
não
sei se entenderia sua insistente
vontade
de brincar
(Você conhece o perigo/
tem medo de cair do muro./
Quem lhe ensinou o perigo?/
se você nunca caiu do muro?)
tem medo de cair do muro./
Quem lhe ensinou o perigo?/
se você nunca caiu do muro?)
Ali,
naquele lugar
encostado,
sozinho
com
muitos pensamentos
e
faminto
Mesmo
ali
estive
num lugar risonho
de
dias passados
não
quis sonhar
pensar
no que virá
lembrar...
isso é bom
catar
de memória
os
troços poucos que me trazem você
palavras
chegam
e
até sonhos em sonhos esquecidos
lembrei
dos silêncios
das
conversas esgotadas
de
nossas mãos
do
seu olhar
dizendo
onde mel olha
assim
no fim da tarde
que
não quer prosseguir
percebo,
os goles com que trago
todos
os seus dias
todo
o existido
o
odiado
o
amado
e o
pensado
Depósito
de vidas
que
sempre vivem enfim a noite irrompe
sacode
suas mantas
e
permite que novamente
cheguem
os nossos dias
Afastando
do campo
onde
deixei vinte e cinco anos
onde
deixei misturada com velhas lições
a
memória rasgada
Afastando
do claro
(ou
do escuro?)
onde
vejo as cores e as frutas
de
um pomar sempre pomar
Afastando
do campo
me
desfazendo
de
laços e embaraços
perdendo
verbos e substantivos
Afastando
do lógico e do ilógico
do ser e da negação do ser
da parte e do todo
do ser e da negação do ser
da parte e do todo
Afastando
de pés e mãos
da
imensa gruta de histeria
onde
nascem os discursos
onde
nascem/morrem palavras e homens
Afastando de tudo
o
que é falso
de
tudo o que é
plástico
e sério
Afastando das vestes
e
das faixas
dos
idiotas e dos sábios
dos
princípios e dos argumentos
..........................................................................................
50
anos depois
A
confissão
Este
foi um poeta
ali,
aos 25 anos.
Quase
um poeta
Ele
arquivou tantas palavras
largou
outro tanto
em esparsos
sonhos, perdidos...
Foi
ser um homem
(pretendia)
Um
homem livre
(pretendia)
Foi
romper estradas
(rompeu)
Limpar
vidraças
(limpou)
E escreveu
sobre os homens
as histórias
dos homens
Mapeou
sons, montes e águas
Decorou
outras poesias
(não
eram poemas?)
Ele
seguiu
(insistia
em ser homem)
Sabia
que não seria
nunca
mais um poeta
(Teve
razão)