quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

TODA HORA







 É a hora boa






Sérgio Afonso





No seio da hora boa

No momento assim à toa




Rasga preciosos papéis

Certidões inegáveis certidões





No seio da hora boa

No momento assim à toa




Rasga corredeiras velozes   

na ousadia de querer ser





No seio da hora boa

No momento assim à toa




Ela aspira o amarelo    

risca seu nome do bordel    

fala de um beijo flácido

(esquece o beijo de pegada)




No seio da hora boa

No momento assim à toa





Ele intranqüilo  

rola por cima das corredeiras    

na audácia de ser




No seio da hora boa

No momento assim à toa






Os dois expostos como alvos    

abrem os olhos   

ele abre os braços  -   

no equilíbrio precário    

ela abre as pernas      

na sustentação horizontal     

no seio da hora boa




No seio da hora boa

No momento assim à toa




E na hora do sonho não sonha    

ele anda fora, alheio   

ela puxa a toalha  

e pára e olha-se no espelho   



ora, ora, ora

 no seio da hora boa   

em um momento assim à toa