É a hora boa
Sérgio Afonso
No seio da hora boa
No momento assim à toa
Rasga preciosos papéis
Certidões inegáveis certidões
No seio da hora boa
No momento assim à toa
Rasga corredeiras velozes
na ousadia de querer ser
No seio da hora boa
No momento assim à toa
Ela aspira o amarelo
risca seu nome do bordel
fala de um beijo flácido
(esquece o beijo de pegada)
No seio da hora boa
No momento assim à toa
Ele intranqüilo
rola por cima das corredeiras
na audácia de ser
No seio da hora boa
No momento assim à toa
Os dois expostos como alvos
abrem os olhos
ele abre os braços -
no equilíbrio precário
ela abre as pernas
na sustentação horizontal
no seio da hora boa
No seio da hora boa
No momento assim à toa
E na hora do sonho não sonha
ele anda fora, alheio
ela puxa a toalha
e pára e olha-se no espelho
ora, ora, ora
no seio
da hora boa
em um momento assim à toa