A malha & No tempo
Ozires Nepomuceno
I
Zé,
o porteiro da missão,
Zé,
o mestre de cerimônia
Zé,
o esquisito
Zé, fardado
Sinalizado
Carimbado
Função:
conhecer os homens
Vida
bem vivida
cheia
de fodas seguidas
atravessando
a velhice
sem
saber para onde ir
sem
fé, sem paixões
os
dados lançados
o
calor do gelo
frente
às as mentes marginais
roupa
branca
cabelos
brancos
olhos
brancos
A
vida vivida da missão
a
vida, jogo de malha
ele
se lança contra o
tripé,
três
vezes
Os
sapatos brancos
sujos
nas laterais
pisando
portas fechadas
portas
neutras portas fechadas, nulas
milhares
de portas
que
não identificam
nenhum
poro
passos brancos vagarosos
nenhum
queda, assobio ou palavra
a
luz branca das lâmpadas
alguém
assobia o samba-canção
imperceptível
Agora,
silêncio
Zé
e o regulamento
exigem
Zé
finge que não escuta
passa
em branco pelo som
II
O tempo perdido
Tempo
perdido
Ido
Tempo
dividido
entre
tudo
entre
nada
Tempo-poeta
frio
Tempo-poeta
imune
Tempo
duro no viver
Tempo-poeta-extendido
foto
ampliada
Preocupações
reais
concretas,
secretas
de
um ser poeta no tempo
Tempo
limite
Tempo-começo
Tempo-fim
no
homem
Tempo
limite
Nunca
limitado
Nunca
angústia-formando
angústia
de espera
Tempo
perdido
na
avenida
no
carro
na
sala
na
televisão
Tempo
sem tempo
para
tudo
o
que é amor
para
tudo
o
que é ser
Ânsia
de eternidade
de
eterna idade(bah!)
não
de vier, viver, viver
Tempos
mil
milhões,
bilhões
Tempo
do ser
Tempo
de ser
Então
me foi dado
um
tempo sem significado
Tirado
de minha vida
O
que farei com esse tempo?
Que
significado lhe darei?
As
características do tempo
empenhando
a consciência
Os
segredos do tempo
-
Existem segredos (bah!)