segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

UM HOMEM







A malha & No tempo


Ozires Nepomuceno



 I



Zé, o porteiro da missão,

Zé, o mestre de cerimônia

Zé, o esquisito

Zé, fardado

Sinalizado

Carimbado

Função: conhecer os homens

Vida bem vivida    

cheia de fodas seguidas    

atravessando a velhice   

sem saber para onde ir   

sem fé, sem paixões    

os dados lançados   

o calor do gelo  

frente às as mentes marginais    
roupa branca   

cabelos brancos   

olhos brancos

A vida vivida da missão    

a vida, jogo de malha  


ele se lança contra o     

tripé,

três vezes

Os sapatos brancos   

sujos nas laterais  

pisando portas fechadas   

portas neutras   portas fechadas, nulas  

milhares de portas    

que não identificam   

nenhum poro  

passos  brancos vagarosos  

nenhum queda, assobio ou palavra    

a luz branca das lâmpadas    

alguém assobia o samba-canção   

imperceptível  

Agora, silêncio   

Zé e o regulamento    

exigem

Zé finge que não escuta   

passa em branco pelo som



 II



O tempo perdido

Tempo perdido

Ido

Tempo dividido  

entre tudo   

entre nada


Tempo-poeta frio

Tempo-poeta imune

Tempo duro no viver



Tempo-poeta-extendido    

foto ampliada


Preocupações reais   

concretas, secretas   

de um ser poeta no tempo

Tempo limite

Tempo-começo

Tempo-fim           

no homem

Tempo limite

Nunca limitado

Nunca angústia-formando    

angústia de espera


Tempo perdido  

na avenida     

no carro     

na sala

na televisão

Tempo sem tempo   

para tudo    

o que é amor     

para tudo   

o que é ser   


Ânsia de eternidade     

de eterna idade(bah!)     

não de vier, viver, viver


Tempos mil   

milhões, bilhões


Tempo do ser

Tempo de ser


Então me foi dado   

um tempo sem significado


Tirado de minha vida

O que farei com esse tempo?

Que significado lhe darei?

As características do tempo   

empenhando a consciência


Os segredos do tempo   

- Existem segredos (bah!)