segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

SÓ A SOLIDÃO E NADA MAIS






A MORTE DE UM POMBO


Gerardo Nikolaievski 



1 Tarde fria, mais fria que o casaco

2 E tudo doura e o sol por acaso na telha

3 Eu, de mãos nos bolsos, faz

um frio de rachar



4 Acabam agora os inúmeros voos

Acabam num canto de paredes          

Acabam bem próximos do chão   



5. Nos telhados, inúmeros pombos

Sem voar, solidários



Respeitam o céu e o ser-voar

Não mais voo



6 O vento e o frio sacodem o sol 
         
no canto da parede um gemer de calor
            
de fogo de asas de agonia



7 tarde gelada em que

despedaça

junto da parede

junto do chão,

o pombo cinza velho

o sol abraça, na agonia

      

8 Atravessa de manhã, de mãos

No sol, a agonia