Lá no futuro
Bolivar Antunes
As questões de
quando eu crescer, eu serei...
Serei a flecha veloz,
O touro bravo ou sentado,
Eu serei médico,
um homem das almas e dos sonhos,
intérprete das loucuras
e de todas as alucinações.
Quando, voltar de Kiev,
traçarei outros caminhos,
nada, nada me amarrará.
Algo me amarra?
Me amarra a placidez de Hemengarda,
a viuvez de Estergilda,
a voz rouca de Lenora,
tudo me segura nesta cidade,
até o rio destruído
e a sua ainda bela
paisagem,
Água que corre entre pedras
em seus mil quilômetros de gritos indeléveis.
O que me amarra é o sonho de Petrarca
em busca da sua também Beatriz.
Não posso me prender em séculos
que não me dizem mais nada.
O que faço nos trecentos
se nem em inferno posso sonhar?
Quando eu crescer...?
Ainda serei um bom poeta
mesmo sem rima
sempre com metro próprio