segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

UM VELHO FUTURO




Lá no futuro



Bolivar Antunes



As questões de 



quando eu crescer, eu serei...


Serei a flecha veloz,


O touro bravo ou sentado,


Eu serei médico,


um homem das almas e dos sonhos,


intérprete das loucuras


e de todas as alucinações.






Quando, voltar de Kiev,


traçarei outros caminhos,


nada, nada me amarrará.


Algo me amarra?


Me amarra a placidez de Hemengarda,


a viuvez de Estergilda,


a voz rouca de Lenora,


tudo me segura nesta cidade,


até o rio destruído


 e a sua ainda bela paisagem,


Água que corre entre pedras


em seus mil quilômetros de gritos indeléveis.



O que me amarra é o sonho de Petrarca


em busca da sua também Beatriz.


Não posso me prender em séculos


que não me dizem mais nada.


O que faço nos trecentos


se nem em inferno posso sonhar?






Quando eu crescer...?


Ainda serei um bom poeta

mesmo sem rima

sempre com metro próprio