quarta-feira, 17 de junho de 2015

QUASE ENIGMA



Cristo de Guido Rocha







A pergunta de Kierkegaard


Wilson Pedrosa



Cristo foi um suicida?

Deus, mesmo na pele de um homem, é deus. Ou não?

Afinal, ele era deus... e quem era deus no imaginário que o criou?

Um ser supremo, superior, ubíquo, senhor dos tempos, presente, passado e futuro.

Deus não morre e jamais permitiria sua morte.

Nem poderia morrer se não aparecesse Nietzsche.

Então, por que deus, senhor dos destinos, permitiu para si mesmo a morte, mais grave, a morte como punição, a morte como condenação?

Deus permitiu que os homens o assassinassem? Por que?

O mais grave ainda, por que reservou a alguns homens o terrível destino de ser traidor, um traidor de deus?

Ninguém trai deus. Então, Judas não existiu? Ou Judas seria também uma das faces de deus?

Assim como Cristo suicidou-se, Judas também é um deus, o outro lado de uma mesma moeda.

Deus era também Judas, o homem a quem reservou o papel degradante de traidor de deus.

Ninguém trai deus, ninguém trai a sapiência, o saber.

Se deus precisava de Judas, deus foi Judas. Não um mero personagem bíblico.

Ninguém trai deus. Se ninguém trai deus, quem traiu deus foi o próprio deus de tudo sabedor, que em sua onisciência. Ou não é onisciente.  

Jamais permitiria a um homem isolado, submeter-se a papel tão cruel – o traidor de deus.

Na criação dessa história para o homem o que pensou deus sobre Judas?

Sobre a necessidade da traição como fato paralelo à necessidade da não-traição, poucas eram as chances do criador se fazer explicar mais claramente senão fulanizando o crime. Judas.

Deus tinha poucos recursos de comunicação com o povo, tantos eram os analfabetos e tantas eram as histórias guardadas, gravadas, nos cérebros dos homens que contavam histórias.

Não precisava trair um homem simples, um simples apóstolo.