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Cristo de Guido Rocha |
A pergunta
de Kierkegaard
Wilson Pedrosa
Cristo foi um suicida?
Deus, mesmo na
pele de um homem, é deus. Ou não?
Afinal, ele era
deus... e quem era deus no imaginário que o criou?
Um ser supremo,
superior, ubíquo, senhor dos tempos, presente, passado e futuro.
Deus não morre e
jamais permitiria sua morte.
Nem poderia
morrer se não aparecesse Nietzsche.
Então, por que
deus, senhor dos destinos, permitiu para si mesmo a morte, mais grave, a morte
como punição, a morte como condenação?
Deus permitiu que
os homens o assassinassem? Por que?
O mais grave
ainda, por que reservou a alguns homens o terrível destino de ser traidor, um
traidor de deus?
Ninguém trai
deus. Então, Judas não existiu? Ou Judas seria também uma das faces de deus?
Assim como Cristo
suicidou-se, Judas também é um deus, o outro lado de uma mesma moeda.
Deus era também
Judas, o homem a quem reservou o papel degradante de traidor de deus.
Ninguém trai
deus, ninguém trai a sapiência, o saber.
Se deus precisava
de Judas, deus foi Judas. Não um mero personagem bíblico.
Ninguém trai
deus. Se ninguém trai deus, quem traiu deus foi o próprio deus de tudo sabedor,
que em sua onisciência. Ou não é onisciente.
Jamais permitiria
a um homem isolado, submeter-se a papel tão cruel – o traidor de deus.
Na criação dessa
história para o homem o que pensou deus sobre Judas?
Sobre a
necessidade da traição como fato paralelo à necessidade da não-traição, poucas
eram as chances do criador se fazer explicar mais claramente senão fulanizando
o crime. Judas.
Deus tinha poucos
recursos de comunicação com o povo, tantos eram os analfabetos e tantas eram as
histórias guardadas, gravadas, nos cérebros dos homens que contavam histórias.
Não precisava
trair um homem simples, um simples apóstolo.