![]() |
Uma rosa é uma rosa |
A verdade e
a palavra
Juan Fusco (*)
Quando
começa a escrever, o escritor mata a verdade. É a limitação do verbo. A palavra
exata, a mais exata, não diz. Nada diz. Nenhuma palavra diz. Pura perda de
tempo insistir no contrário por maior que possa ser a aproximação da verdade
através de um relato com o uso de palavras. Faltará sempre um detalhe.
Consciente
desta verdade, o escritor é cauteloso.
Outros, também conhecidos como ficcionistas, já tem a mentira pronta ou uma
forma de dizer o que tem a dizer dando voz e inteligência aos animais. São as
fábulas.
Outras
vezes, a história real vai além da fábula, mesmo ao rigor de fatos,
registrados, conferidos, catalogados. E lê-se o aviso: História Real. Não é. É
quase, chega perto.
A mentira é
a alma do escritor e a razão do romance possível em todos os tempos.
Sem a
mentira não tem história, não tem romance, não tem ficção. A palavra será
sempre a assassina da verdade. Mata a verdade ao apreender, no relato, a
descrição da cena, o diálogo, a trama. A palavra pode tudo, pode até mesmo
matar a verdade, escondê-la ou destruir a mentira.
Diz
Heidegger que a linguagem é a morada do ser,
acrescente-se que, em muitos
casos,
torna-se a prisão do ser,
quando não o seu extermínio.
quando não o seu extermínio.
(*) Juan Fusco, pensador