quarta-feira, 24 de junho de 2015

TODA MENTIRA

Uma rosa é uma rosa



A verdade e a palavra


Juan Fusco (*)


Quando começa a escrever, o escritor mata a verdade. É a limitação do verbo. A palavra exata, a mais exata, não diz. Nada diz. Nenhuma palavra diz. Pura perda de tempo insistir no contrário por maior que possa ser a aproximação da verdade através de um relato com o uso de palavras. Faltará sempre um detalhe.


Consciente desta verdade, o  escritor é cauteloso. Outros, também conhecidos como ficcionistas, já tem a mentira pronta ou uma forma de dizer o que tem a dizer dando voz e inteligência aos animais. São as fábulas.


Outras vezes, a história real vai além da fábula, mesmo ao rigor de fatos, registrados, conferidos, catalogados. E lê-se o aviso: História Real. Não é. É quase, chega perto.


A mentira é a alma do escritor e a razão do romance possível em todos os tempos.


Sem a mentira não tem história, não tem romance, não tem ficção. A palavra será sempre a assassina da verdade. Mata a verdade ao apreender, no relato, a descrição da cena, o diálogo, a trama. A palavra pode tudo, pode até mesmo matar a verdade, escondê-la ou destruir a mentira.





Diz Heidegger que a linguagem é a morada do ser, 

acrescente-se que, em muitos casos, 

torna-se a prisão do ser, 

quando não o seu extermínio. 




(*) Juan Fusco, pensador