quarta-feira, 24 de junho de 2015

TUDO VALE A PENA





A sexta lição de Hemingway


Na troca por 6 garrafas de uísque, o escritor ensinaria ao marinheiro a escrever. A última lição foi a caminho do aeroporto.

W. J. Lederer aprendeu. A curta história em que relata o aprendizado é a mais perfeita lição. Sabe contar o caso.

Poderia ter resumido a história e dito que enganado por um chinês, acabara enganando Hemingway.
Também se dissesse o conteúdo das garrafas teria contado o caso que não é um romance, um conto, mas que é mais do que lições sobre a arte de escrever dadas por um romancista famoso em troca de 6 uísques.

Se dissesse ainda que, um dia, em Xunquim, na China, encontrara com Hemingway e que o enganara, sem saber que o enganava, faria um relato verdadeiro.

Este curto relato de William Julius Lederer é mais do que a sexta, a última lição de um contrato de troca que fora cumprido pelas duas partes.

É uma lição de que para ser um escritor é preciso ser um homem civilizado, teria dito Hemingway. E que ser um homem civilizado precisar-se-ia de duas coisas:

a.      Compaixão

b.      Capacidade de aceitar os contras da vida.


"Eu gosto de escutar. 

Eu aprendi muito escutando 

cuidadosamente. 

A maioria das pessoas nunca escuta."



Vamos ouvir (ler) o que W. L. Federer escreveu


E os conselhos de Bukowski:



então queres ser um escritor?

(Tradução: Manuel A. Domingos)

se não sai de ti a explodir

apesar de tudo,

não o faças.

a menos que saia sem perg
untar do teu

coração, da tua cabeça, da tua boca

das tuas entranhas,

não o faças.

se tens que estar horas sentado

a olhar para um ecrã de computador

ou curvado sobre a tua

máquina de escrever

procurando as palavras,

não o faças.

se o fazes por dinheiro ou

fama,

não o faças.

se o fazes para teres

mulheres na tua cama,

não o faças.

se tens que te sentar e

reescrever uma e outra vez,

não o faças.

se dá trabalho só pensar em fazê-lo,

não o faças.

se tentas escrever como outros escreveram,

não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti

a gritar,

então espera pacientemente.

se nunca sair de ti a gritar,

faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher

ou namorada ou namorado

ou pais ou a quem quer que seja,

não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,

não sejas como milhares de

pessoas que se consideram escritores,

não sejas chato nem aborrecido e

pedante, não te consumas com auto-

— devoção.

as bibliotecas de todo o mundo têm

bocejado até

adormecer

com os da tua espécie.

não sejas mais um.

não o faças.

a menos que saia da

tua alma como um míssil,

a menos que o estar parado

te leve à loucura ou

ao suicídio ou homicídio,

não o faças.

a menos que o sol dentro de ti

te queime as tripas,

não o faças.

quando chegar mesmo a altura,

e se foste escolhido,

vai acontecer

por si só e continuará a acontecer

até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.

e nunca houve.