A sexta
lição de Hemingway
Na troca por
6 garrafas de uísque, o escritor ensinaria ao marinheiro a escrever. A última
lição foi a caminho do aeroporto.
W. J.
Lederer aprendeu. A curta história em que relata o aprendizado é a mais
perfeita lição. Sabe contar o caso.
Poderia ter
resumido a história e dito que enganado por um chinês, acabara enganando
Hemingway.
Também se
dissesse o conteúdo das garrafas teria contado o caso que não é um romance, um
conto, mas que é mais do que lições sobre a arte de escrever dadas por um
romancista famoso em troca de 6 uísques.
Se dissesse
ainda que, um dia, em Xunquim, na China, encontrara com Hemingway e que o
enganara, sem saber que o enganava, faria um relato verdadeiro.
Este curto
relato de William Julius Lederer é mais do que a sexta, a última lição de um
contrato de troca que fora cumprido pelas duas partes.
É uma lição
de que para ser um escritor é preciso ser um homem civilizado, teria dito
Hemingway. E que ser um homem civilizado precisar-se-ia de duas coisas:
a. Compaixão
b. Capacidade de aceitar os contras da vida.
"Eu gosto
de escutar.
Eu aprendi muito escutando
cuidadosamente.
A maioria das pessoas nunca escuta."
Eu aprendi muito escutando
cuidadosamente.
A maioria das pessoas nunca escuta."
Vamos ouvir (ler) o que W. L. Federer escreveu
E os conselhos de Bukowski:
então queres ser um escritor?
(Tradução: Manuel A. Domingos)
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.