A Sobrevivência e o Arrependimento
José Ribamar Piauí (Buscapé)
Sou triste no mundo em que emparedei-me
Alheio ao viver alegre e sem sentido
Não me fiz triste para ser poeta
Fiz-me triste por mim mesmo,
por honestidade
e de sacanagem
com toda a minha alegria
Como posso sorrir, se finjo alegria
Como posso sorrir, se logo me canso
Se os músculos da face esqueceram
A contração de um sorriso franco
As palavras em minha vida
não têm definições
nem as encontro em dicionários
Seriam uivos, gritos, lágrimas
(lágrimas também são palavras
e dizem muito mais do que se imagina)
Não se encontram em verbetes
Não têm sinônimos
Não são letras apenas,
são palavras silenciosas
envergonhadas de dizerem
o que evitam
Escrevo com as mesmas palavras de todos
Digo para mim o que eu entendo
Explicado está para mim o que eu falo
Não acendo vela aos santos
Já acendi
Não me humilho por isso
Não me humilho por isso
Amei decentemente uma mulher
(Um dia, um dia, por isso não morri)
Já fui vagabundo, já fui valente,
triste também, alegre também
Vi a morte rasgar o meu peito de dor
e a morte arrancar de meus braços
uma vida que eu trocava pela minha.
(Disse isto para eles,
com palavras de fogo e dor)
com palavras de fogo e dor)
Vi, vi sim, vi lágrimas em meus olhos
(É verdade, eu olhei no espelho,
eram verdadeiras,
eram lágrimas mesmo.
Sentia seu sal)
Diante de mim, vi o pavor,
o susto, o pavor, o susto, o horror
Vi o homem-cão
arrastar-se e pedir-me
Senhor da vida e da morte
Sua vida, um resto de vida
E eu disse não,
É preciso saber dizer não
(Lição inesquecível dos adultos)
Vi também diante de mim o meu fim
E arrastei-me como um cão,
igualzinho a um cão,
Ganindo,
Rabo entre as pernas,
Eu, eu queria minha vida
e consegui
Para depois
enojar-me
Por que prendem os poetas? |