quarta-feira, 18 de novembro de 2015

CONFISSÕES DE BUSCAPÉ




A Sobrevivência e o Arrependimento









José Ribamar Piauí (Buscapé)






Sou triste no mundo em que emparedei-me

Alheio ao viver alegre e sem sentido

Não me fiz triste para ser poeta

Fiz-me triste por mim mesmo,

por honestidade

e de sacanagem

com toda a minha alegria





Como posso sorrir, se finjo alegria


Como posso sorrir, se logo me canso


Se os músculos da face esqueceram


A contração de um sorriso franco





As palavras em minha vida

não têm definições

nem as encontro em dicionários

Seriam uivos, gritos, lágrimas

(lágrimas também são palavras

e dizem muito mais do que se imagina)



Não se encontram em verbetes

Não têm sinônimos

Não são letras apenas,

são palavras silenciosas

envergonhadas de dizerem

o que evitam



Escrevo com as mesmas palavras de todos

Digo para mim o que eu entendo

Explicado está para mim o que eu falo




Não acendo vela aos santos

Já acendi

Não me humilho por isso





Amei decentemente uma mulher

(Um dia, um dia, por isso não morri)



Já fui vagabundo, já fui valente,

triste também, alegre também

Vi a morte rasgar o meu peito de dor

e a morte arrancar de meus braços

uma vida que eu trocava pela minha.

(Disse isto para eles, 

com palavras de fogo e dor)




Vi, vi sim, vi lágrimas em meus olhos

(É verdade, eu olhei no espelho,

eram verdadeiras,

eram lágrimas mesmo.

Sentia seu sal)




Diante de mim, vi o pavor,

o susto, o pavor, o susto, o horror





Vi o homem-cão arrastar-se e pedir-me

Senhor da vida e da morte

 

Sua vida, um resto de vida

 

E eu disse não,

 

É preciso saber dizer não

 

(Lição inesquecível dos adultos)





Vi também diante de mim o meu fim

E arrastei-me como um cão,

igualzinho a um cão,

Ganindo,

Rabo entre as pernas,

Eu, eu queria minha vida

e consegui


Para depois enojar-me




Por que prendem os poetas?