Maduro, o abiu reduz
o suco viscoso que cola os lábios
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Inventário do quintal
Olegário
Mendes
Um pé de abiu
Dois de goiaba
goiabas-sempre-bichadas
Goiabeira florida
Pura alegria
Comia verde
Disputa com as lagartas.
Um pé de pinha. Dois?
Outro de urucum.
Dois pés de laranja.
Nunca davam boas laranjas.
O pé de abiu
Abius imensos, amarelos
Maduros ou não,
Viscosos, seu leite prega os lábios
E cola os lábios dos meninos
Nos lábios da meninas
Pura anarquia
Durvalina fará
Diz que fará
Com o látex do abiu
Cola e remédio
No fundo do quintal,
as árvores maiores são as ameixeiras.
O rego divide o quintal
Estreito afluente de outros afluentes
Correndo pro Mucuri e pro mar
(diziam, diziam e cantavam)
Estreito rego
Pouco mais de vinte centímetros
Transportando barcos de papel na vizinhança
Na serraria, canalizado.
Cuidado com enchente,
Que transforma o reguinho em braço de mar
Os vizinhos.
De um lado, Seu Friaça,
homem de secos e molhados,
atacado e varejo.
Construiu um depósito
no fundo do seu quintal
Acabou com o pomar,
o bananal sifu
o bananal sifu
Imaginava a coragem do seu Friaça:
Destruir um quintal.
Louco.
Nunca mais banana
Nunca mais banana nanica
Nunca mais xoxotas
Ao mesmo tempo,
um prédio, imponente,
acelerava a imaginação
de todos pelas caixas de refrigerantes,
onde poucos tinham geladeira
Do outro lado do quintal,
tudo para a imaginação
e, na mangueira era 5 x 1
Lá, a casa das putas.
Escondido, observava as mulheres.
Qualquer hora era hora
de trepar no abacateiro
de trepar no abacateiro
Ver e ouvir, mãos firmes
no galho e no pau
no galho e no pau
Logo depois,
seriam as inesquecíveis:
Minhas eternas putas.
Os nomes feios não eram mais feios
Vinham com alegria
Uma alegria sempre alegre
sempre cheirosa
Nas estradas, nossa Minas revelaria
tantas alegrias em tantos pousos alegres
As cidades, muitas, carregariam
sincera identidade
sincera identidade
I
O sexo no porão.
Bocetinhas de poucos pelos e cheirosas,
doces, pequenas.
doces, pequenas.
O tijolo debaixo das bundas
a levantar as xoxotinhas sem pelos.
a levantar as xoxotinhas sem pelos.
A surpresa de quem resistiu
às minhas investidas.
às minhas investidas.
Para depois clamar
pedir, implorar, avançar,
trucidar
II
Na cama das duas meninas,
Irmãs e primas,
No silêncio da noite,
Detinha, a mais velha,
cara fechada:
“Hora de dormir”
Debaixo do cobertor,
Nova ordem:
“Só podia ver; pegar, não”
“Só podia encostar; enfiar, não”
A obediência é ouro, é prata, é tudo
Do lado de Detinha, a irmã dormia.
Dormia?
Olhos, nariz e ouvidos acordados
Os músculos das coxas tremiam
era a força para manter
as pernas fechadas
as pernas fechadas
Não podiam, ninguém podia, correr risco.
Se a coisa dura escorrega?
Detinha dormia, a irmã beslica,
É
a minha vez.
Tão menina e, esperta, não vacilava.
Nunca abriu as pernas
Nunca afastou as coxas.
Detinha já deixava escorregar e escorregar,
Desde que só molhasse nossas barrigas
na hora dos corações acelerados
III
No primeiro andar, perto do porão,
o banheiro, mal iluminado,
água parada,
as meninas da limpeza e da cozinha
as meninas da limpeza e da cozinha
tomam banho de porta aberta
‘É o banheiro delas”
Ninguém entra, diziam
Engano.
Dava para ver
aquelas negras e morenas cheirosas,
muitas, muito gostosas
delas tudo era do melhor,
o cheiro de suor, cheiro de trabalho,
de cozinha, na roupa e na pele.
Mulheres temperadas
Assim, o alho e a cebola
nunca mais saíram da minha vida
nunca mais saíram da minha vida
Nem o cheiro doce da pele escura
A escuridão do porão, obriga,
quem não pode ser visto,
a ficar imóvel,
tudo, até o pulmão.
Horas e horas à espera
da hora de Maria tomar banho de bacia.
O corpo adulto de Maria enlouquecia.
Não era mais um menino,
era ver escondido.
E contentar apenas com ver
As narinas iam comigo ao porão.
Pelas narinas,
Maria muitas vezes me deixou desmaiado.
Maria muitas vezes me deixou desmaiado.
As guerras, os esconderijos,
aos lugares perigosos do porão.
aos lugares perigosos do porão.
Na zona, a mulher gorda, imensa,
era a única que aceitava meninos crianças.
Fodia com o travesseiro
(de novo o tijolo)
debaixo das nádegas.
Aprendi isto.
Voltei ao porão
Debaixo da minha amiguinha,
um tijolo forrado.
um tijolo forrado.
– Eu não sabia beijar, fingia que sabia
Paciente, ela ensinou os truques da boca.
Para que beijar se estávamos fodendo?
Ela não concordou e apenas me beijou.
Não precisava ter insistido.
Havia partes do quintal que eu temia.
O rego, junto ao muro da oficina.
Tudo porque minha amiga
ganhou um cágado,
ganhou um cágado,
Ciúmes e à primeira ordem de sumir
com o cágado
com o cágado
eu o matei com o machado
joguei no rego.
joguei no rego.
Disseram-me que a imagem de Jesus e Maria,
lá da sala nunca me perdoaria o que fiz.
Chorei muito.
Fiquei com medo da sala e das imagens.
Fiquei com medo da sala e das imagens.
Tentei inclusive encontrar o cágado no rego.
Evitava a sala.
Não mais olhar Jesus e Maria
Aquele lugar do quintal
Agora misterioso e sinistro
A sala das imagens?
Não
me aproximava dali, tinha medo.
Aos poucos desafiava o medo.
Primeiro, desmontar Jesus e Maria
Tirar do retrato,
Tirar do retrato,
depois limpar o rego
Não
encontrei os restos do cágado
compreendi que ele havia sido levado
pelas águas lodosas e sujas.
Minha amiga e meu porão.
E meu quintal.
Ela também tinha ciúmes de mim.
Beijávamos e quando alguém a ofendia,
era briga que a deixava assustada
“Assim, vão descobrir”
E ela sempre se oferecia a mim
Um dia,
ela decidiu
Nunca mais. Nunca mais.
Never more. Never more.
Ela tornara-se mocinha.
Foi ela quem primeiro conseguiu namorar.
Com ódio, arranjei dez namoradinhas,
em quem podia enfiar o pau.
Dureza. Nada a ofendia.
Achava engraçado
Cúmulo dos cúmulos,
gostava das namoradas.
gostava das namoradas.
Apresentava-me suas amigas
Amiga, ela preparava o campo,
as pernas, as coxas e as bocetas
Embaralhei tudo e fiz confusão.
Ninguém nunca soube de nossos encontros.
O quintal era também
o quintal das teias de aranhas,
Armadilhas a nos deter
pelos rostos e pelos braços;
pelos rostos e pelos braços;
As grandes aranhas e todos os pavores.
Quem iria matá-las?
Ninguém tinha coragem
Nem as aranhas que fugiam
atabalhoadamente, como todos nós