A arte de
enlouquecer jabutis
Arturo B Artigas
Enlouquecer
cachorro no norte de Minas Gerais e sul da Bahia é uma operação simples.
Primeiro,
habitua-se os animais até uma certa idade no convívio doméstico a comandos
simples com ordens precisas, diretas, objetivas para sair ou entrar na casa.
Depois,
troca-se os comandos.
-
Saia
para dentro!
-
Entre
para fora!
O
cachorro, em dois, três dias, enlouquece.
No
laboratório de zoonose da Universidade Rural da Bahia, os índices estatísticos
apontam para cerca de 95,3% de enlouquecimentos positivos de cachorros de
diversas raças.
Os
mais difíceis são os cachorros da raça Labrador, talvez até mesmo por
inteligência e razões ocultas, os animais desta raça são poupados.
Os
Pit Buls e congêneres são os que mais fácil e rapidamente enlouquecem. Um casal
de Pit Buls da fazenda Maravilha, em Três Marias, comeram dois sem-terra e um
cavalo Mangalarga, em menos de uma semana.
Já
o trabalho com jabutis é muito mais complicado e até certo ponto sofisticado.
Não se enlouquece jabutis com facilidade. Animais extremamente lentos no
raciocínio comparados com os cachorros.
Uma
das experiências desenvolvidas, primeiramente, na região de Machado, sul de
Minas, fronteira com o norte de São Paulo, consistia em adequar o enlouquecimento
de homens ao dos jabutis. Não pela
lentidão do pensamento do homem comparado com o do cachorro. Nem pela
dificuldade de apreensão de comandos trocados.
Os
homens enlouquecem quando, por exemplo, são chamados para nada ou para quase
nada. O exemplo aprimorado, em Machado, e aplicado por uma mulher esposa
consistia em acompanhar a saída do homem marido do quarto através de chamados.
O
primeiro chamado se dava quando o homem marido levantava da cama.
Ele
voltando faz-se qualquer pergunta – o importante é que seja sempre, se
possível, sem sentido, como a hora ou como dar seqüência a qualquer conversa
deixada para trás.
O
segundo chamado deve atingi-lo quando ele, o homem marido, atravessar a porta
do quarto.
Ele
já voltará atingido, ainda um pouco ressabiado. De novo, tenta-se uma pergunta
sem sentido (chove?) ou dá-se uma ordem esquisita
(Deixe
a mamadeira no banheiro!)
Se
ele conseguir chegar até a cozinha, não escapará de um terceiro chamado quando
passar pela sala. Insiste-se na pergunta ou na ordem sem sentido como o que irá
fazer naquele dia, se passará por qualquer lugar, farmácia, padaria, livraria,
hospital, o caraca.
Quando
abrir a porta da sala, o quarto chamado já não mais o surpreenderá.
Ele
fará todo o percurso de volta, aí não é nada ou a mulher esposa esqueceu do que
queria falar. Coisas do gênero.
A
partir daí, o percurso até a garagem torna-se um tormento, quase uma tortura.
Amigo,
isto, repetido todos os dias, enlouquece qualquer ser humano em menos de uma
semana.
As
estatísticas de enlouquecimento de homem marido naquela região apontam números
maravilhosos. Chega a quase 100%.
Apenas
em Machado, o enlouquecimento atingiu cerca de 98%, isto porque não se pode
computar as razões pelas quais os homens suicidam.
Com
relação ao enlouquecimento de jabutis... aí é outra história