terça-feira, 2 de agosto de 2016

A IRA AMAZÔNICA



Os donos do mercado do minério estavam incomodados





Tudo pela cassiterita


A partir de Ângelo Altino Machado




Bernardo Cabral, ministro da Justiça, pediu para o Zé Altino cuidar, tomar conta, proteger o filho dele que era candidato a deputado federal, em Roraima, quando o Zé era candidato ao Senado.


Zé Altino colocou um avião à disposição do menino e dois seguranças dos melhores, homens fortes, experientes e de confiança.


Tempos depois, eu estava no hangar do Zé Altino. Um grande hangar, ponto de reunião e encontro de pilotos e do pessoal do aeroporto, onde tinha sempre um café e alguma coisa quente para comer. Era um lugar onde o pessoal se encontrava.


Zé Altino não estava no hangar, quando chegou o ministro da Justiça, Bernardo Cabral. Eu já o conhecia. Disse para ele que Zé estava em Boa Vista, saíra com Romero Jucá, e que devia chegar a qualquer momento. O ministro disse que iria para o hotel, desembarcara naquele momento, precisava falar com Zé a pedido do presidente Collor.


Estava na sala mamãe, papai, eu e Zé Altino quando o ministro relatou que o presidente precisava, para o seu projeto político, eleger senador por Roraima, João Lira, sogro de Pedro Collor. Pedia, assim,  ao Zé Altino para retirar sua candidatura e apoiar João Lira. Em troca o presidente dava todas as garantias para que Zé Altino desenvolvesse e ampliasse sua presença na Amazônia, que o negócio de Zé não era a política e sim a mineração.


O ministro disse isso de maneira educada e gentil. Todos nós, ali naquela sala, sabíamos que a eleição para o Senado de João Lira, era pela imunidade parlamentar, pois ele era denunciado como mandante do assassinato de um de seus guarda-costas, que se tornara amante de sua mulher.


Zé Altino foi grosseiro com o ministro ou, no mínimo duro. Não retiraria a candidatura e que se Pedro Collor subisse no seu palanque, ele não ficaria.


Havia a possibilidade da presença do presidente da República, Fernando Collor de Melo, em um comício em Boa Vista, unindo em torno de si os candidatos dos partidos da base governista em Roraima.


O ministro buscou novos argumentos e fez ver ao Zé Altino que o quadro eleitoral, por bom senso, pelas pesquisas e por indicações de análises e informações seguras, indicava que as chances maiores estavam na redução do número de candidatos ao Senado e na concentração de forças naqueles com condições melhores e com bons cacifes.


João Lira tinha dinheiro e ostentava. Na campanha, por várias vezes, até quatro vezes no mês, ele, a família e os amigos, embarcavam nos jatinhos do grupo e passavam um dia, dois dias, no Caribe, a duas horas, uma hora e meia, de voo.


O ministro foi gentil, cortês e educado. Não insistiu, embora tenha usado como último argumento a compreensão de que ao se chegar a pouco menos de 20 dias na reta final da campanha, muito já se tinha feito, gasto, muito caminho percorrido e muitos compromissos assumidos, ele via perfeitamente a grande dificuldade da campanha do Zé Altino e do próprio Zé Altino em retirar sua candidatura. O ministro Bernardo Cabral agradeceu e despediu.


Mamãe levantou e foi dura e direta com Zé Altino.



“Meu filho, eu e seu pai estamos indo embora amanhã, no primeiro voo. Você jogou fora o seu futuro, você destruiu o seu futuro”.




O diálogo com o ministro da Justiça, Bernardo Cabral, foi à tarde. A principal atividade do Zé Altino era a extração da cassiterita. A CIA, Companhia Industrial da Amazônia, comprava toda a cassiterita e pagava em dinheiro vivo, todas as sextas-feiras. Um milhão por semana.


O grande gasto era com o combustível para os aviões que transportavam a cassiterita.


À noite, um telefonema da direção da empresa, em Manaus, avisou que uma ordem da Polícia Federal e da Presidência da República proibia a compra do minério, que policiais vigiavam a empresa e que todo minério seria apreendido.


A Sheel comunicou, quase na mesma hora, a suspensão do fornecimento de combustível.


Ainda naquele mês, chegou a Roraima uma equipe de policiais e militares do Exército, comandada pelo delegado geral da Polícia Federal Romeu Tuma, que tinha grande apreço pelo Zé, sempre o procurando lá no Norte ou em Brasília.


Eles estavam ali para dinamitar os aeroportos, todos construídos por Zé Altino, e para fechar minas de cassiterita do Zé Altino.


Zé Altino falou da importância daquelas pistas para o País e que ele gastou, do próprio bolso, mais de um milhão de dólares com toda a infraestrutura.


Diante da determinação e da frieza das autoridades policiais, pediu permissão para retirar 20 mil toneladas de cassiterita depositadas em uma das pistas.


O delegado Romeu Tuma o aconselhou a procurar a Justiça. As pistas foram explodidas em um espetáculo documentado pela televisão, quando todos respaldavam as ações megalomaníacas de um presidente que assustaria o País por suas loucuras e irresponsabilidades.


Quando Zé Altino, enfim, obteve o direito de retirar o minério, na Justiça, não encontrou nem o pó da cassiterita.




Resultado da eleição em 1990

Nenhum dos dois foi eleito:

João Lyra, do PSC, ficou em 5º. Lugar, com 9,69% dos votos

José Altino Machado, em 7º. Lugar,  com  6,07%