A GLOBO, Isto é
A captura de imagens
Roger Faustino
Como
piloto, o fazendeiro e cafeicultor Alcântara transportou uma equipe da TV Globo
que filmaria a destruição provocada pelas chuvas na região Leste de Minas
Gerais.
No
aeroporto, decidiu acompanhar a repórter e o cinegrafista. Não havia destruição
nenhuma.
A
repórter comunicou a realidade que via e recebeu instruções para garimpar as
piores imagens que conseguisse obter e que fossem provas da devastação.
Não
havia.
Diante
da insistência de seus chefes, ela apelou para que indicassem para ela algum
lugar que pudesse filmar mostrando alguma destruição.
Filmaram
uma casa que começara a ser demolida antes das chuvas.
De
noite, em casa, lá estava a reportagem
no Jornal Nacional mostrando os estragos causados pela água e o
depoimento de um cidadão reclamando dos prejuízos que tivera.
O
cidadão era o motorista da Van, contratado para transportar os profissionais da
Globo, que não tivera nenhum prejuízo mas que colaborara com a reportagem.
Mentindo. Um depoimento falso.
Relato de Alcântara:
"Meu
gerente da fazenda de Vitória da Conquista ligou.
Queria
autorização para deixar uma equipe da Globo filmar o cafezal.
Fiquei
feliz, minha fazenda era bonita e bem cuidada.
Autorizei
e recomendei toda a atenção com a equipe da televisão, dando o suporte que
fosse necessário.
Duas
horas depois, a equipe desistira de filmar a fazenda, pois a reportagem deveria
mostrar a falência dos cafezais na Bahia.
Encontraram,
em uma região distante, um cafezal abandonado há 20 anos e que não produzia
mais nada.
A
realidade da região era outra: expansão dos cafezais. Como em todos os
negócios, investimentos cresciam por quem tinha condições e com mudanças de
ramo por quem estava optando por outros negócios na agricultura e nas finanças."