sexta-feira, 15 de julho de 2016

A FAZENDEIRA DO AR










A mulher e a mangueira


Jobson Duarte



Todo jardineiro viveu um dia a experiência de ter em meio a muitas flores aquela flor que - ele jamais saberá explicar o porquê, nem ele nem ninguém -  terá um crescimento especial, que será a mais bela e que terá a mais maravilhosa cor.

Flor ou mesmo folha ou mesmo uma planta roseira ou uma árvore fruta.

Minha experiência, pouca como jardineiro plantador, foi com um pé de manga e minha mãe.

Sempre com uma planta nas mãos, minha mãe tinha, em seu quintal, seu plantio, suas plantas, suas flores, seus cuidados.

Algumas vezes, este quintal foi o parapeito das janelas da cozinha, do banheiro e onde houvesse espaço em um apartamento.

Em um apartamento com área, ela plantou palmeiras, um pé de acerola e muitas outras plantas e até mesmo uma mangueira. Como ela faria? No vaso, a mangueira, manga espada, era uma planta viçosa, linda, folhas fortes.

A árvore crescia bonita, forte, folhas fortes, viçosas e eu observava o crescimento da mangueira e os cuidados dela, a plantadora. 

Imaginava o que aconteceria.

Uma mangueira em um apartamento, crescendo em um pedaço de terra de pouco mais de meio metro de largura, junto ao muro de dois prédios?

Difícil de acreditar. 

Um desafio para qualquer mestre plantador. 

Não conseguia imaginar aquela árvore, com a toda a sua força, dando um chega pra lá nos prédios e ocupando seu lugar, caule, tronco e suas raízes infiltrando entre cimentos, quartos, banheiros, salas e cozinhas.

Ela me pediu para levar a mangueira e plantá-la em um lugar bonito. Um lugar bonito e onde ela pudesse crescer, se tornar uma árvore frondosa e de muitos frutos saudáveis.

A mangueira está, hoje, nas margens da lagoa de Furnas, na exata divisa de quatro lotes, para que seus frutos fossem divididos entre um maior número de pessoas e para que se um quisesse tirá-la, outros três a defenderiam. Eu acredito que ela esteja lá. Frutificando.

Assim como todos os jardineiros, muitos homens um dia amaram uma mulher e com ela tiveram os melhores momentos de sua vida. Homens que conheceram a felicidade, a alegria e o sorriso que chega com a felicidade e a alegria. Homens que descobriram a beleza da mulher viçosa, frondosa que cresceu, ali. ao seu lado, cheia de vida e de força.

Um dia, esta mulher parte.

Vai como nossa mangueira ser dividida entre quatro lotes.

É o destino de toda mangueira: o fruto.