quarta-feira, 13 de julho de 2016

UM NOVO AMOR












Como se isto fosse possível



Antônio A. de Almeida




Um novo amor não existe e nem existirá.

Amor, quando existe, é só um.

Isto pensava Mário Quintana, o gaúcho, o poeta ao se aproximar do cais.

Ali, era a sua porta, era o seu porto, partiria ou voltaria, embarcaria ou desembarcaria.


Assim, seus passos não tinham a rapidez de um jogador a quem resta um último lance e é fim de partida.

O poeta pensa e pensa poesia naquele nevoeiro profundo mais profundo do que o mais veloz pensamento...

-         Amigo ou amiga, quem é que me espera?

Seus olhos, seus olhos chegam além do cais.


Ele insiste já tétrico


"Quem é que me espera, 

que ainda me ama, 

parado na beira 

do cais do Outro Mundo?"



Poeta, poeta não exagere tanto. Não há desembarque.


Ele vê o que eu não vejo, o que talvez só a paixão e o amor mostram.


Ele fala

-         Amigo ou amiga que olhe tão fundo tão fundo em meus olhos e nada me diz...


      - Quem ama fala pelos olhos?


Ele vê e reconhece aquela que é puro sorriso


-         Que rosto esquecido... ou radiante face puro sorriso de algum novo amor?!


Novo amor, um novo amor.


É possível?


Um rosto esquecido, puro sorriso, não é um novo amor.


A alegria do amor é que nos faz desembarcar neste cais, de onde Mário Quintana, poeta e gaúcho, se afasta e volta com a amada, eterna amada, eterno novo amor, de novo para a vida.











O Cais


Naquele nevoeiro

Profundo profundo...

Amigo ou amiga,

Quem é que me espera?




Quem é que me espera,

Que ainda me ama,

Parado na beira

Do cais do Outro Mundo?




Amigo ou amiga

Que olhe tão fundo

Tão fundo em meus olhos

E nada me diga...




Que rosto esquecido...

ou radiante face

Puro sorriso

De algum novo amor?!




[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]