Como
se isto fosse possível
Antônio A. de Almeida
Um
novo amor não existe e nem existirá.
Amor,
quando existe, é só um.
Isto
pensava Mário Quintana, o gaúcho, o poeta ao se aproximar do cais.
Ali,
era a sua porta, era o seu porto, partiria ou voltaria, embarcaria ou desembarcaria.
Assim,
seus passos não tinham a rapidez de um jogador a quem resta um último lance e é
fim de partida.
O
poeta pensa e pensa poesia naquele nevoeiro profundo mais profundo do que o
mais veloz pensamento...
-
Amigo
ou amiga, quem é que me espera?
Seus
olhos, seus olhos chegam além do cais.
Ele
insiste já tétrico
"Quem é que me espera,
que ainda me ama,
parado na beira
do cais do Outro Mundo?"
Poeta,
poeta não exagere tanto. Não há desembarque.
Ele
vê o que eu não vejo, o que talvez só a paixão e o amor mostram.
Ele
fala
-
Amigo
ou amiga que olhe tão fundo tão fundo em meus olhos e nada me diz...
- Quem
ama fala pelos olhos?
Ele
vê e reconhece aquela que é puro sorriso
-
Que
rosto esquecido... ou radiante face puro sorriso de algum novo amor?!
Novo
amor, um novo amor.
É
possível?
Um
rosto esquecido, puro sorriso, não é um novo amor.
A
alegria do amor é que nos faz desembarcar neste cais, de onde Mário Quintana,
poeta e gaúcho, se afasta e volta com a amada, eterna amada, eterno novo amor,
de novo para a vida.
O Cais
Naquele
nevoeiro
Profundo
profundo...
Amigo ou
amiga,
Quem é
que me espera?
Quem é que me espera,
Que ainda
me ama,
Parado na
beira
Do cais
do Outro Mundo?
Amigo ou
amiga
Que olhe
tão fundo
Tão fundo
em meus olhos
E nada me
diga...
Que rosto esquecido...
ou
radiante face
Puro
sorriso
De algum
novo amor?!
[Mario Quintana; Aprendiz de
Feiticeiro, 1950]