quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A INVENÇÃO













Da palavra, 


da mulher



 e 



do amor





Graciliano Telles de Albergaria







Você não existe apenas porque eu existo?

Você, talvez, hoje não seja mais

do que uma mulher reduzida às coisas

Mulher-vestido

Mulher-coméstico

Mulher-baton

Mulher-plástica



Você não existe mais.

Aquele vestido rosa desbotou

Aquela moda passou

Gora é outro ano

Agora há um morro aqui



Mas, eu, curioso do seu tempo

pergunto-lhe o que aconteceu


Quero saber o que fez

No correr destes dias?


Não posso é acreditar

que você se deixou pegar

no jogo fácil do amor

sem quê nem porquê

ou mesmo

do amor cheio de explicações




Esta tarde em que ninguém aparece

é bobagem tentar arrancar um beijo

dizer para Isaura que no norte tem açaí

no almoço e na janta



É bobagem, gesto tolo

a rede balançando, convidando




Esta tarde em que o céu cheio de sol

é quente, estúpido como eu mesmo

ou para mim

ou por mim

só para mim

por causa daquela história sem Isaura




Esta tarde em que vejo o dia se acabar

eu olho para trás

e vejo apenas um

almoço

e algumas palavras

sobre o tempero do feijão




Esta tarde em que espero a noite

e que da noite nada espero

quedo-me parado




Fixo nas pessoas caminhando

e eu me arrastando,

repetidamente,

daqui pra ali

de lá pra cá