A cabeça de
Porfírio
Hermes O. Trigueiro
Um
maluco.
Um sábio.
Um doido.
Um homem.
Um desastrado.
Um homem do nosso tempo?
São
as opiniões de quem observa, estuda, acompanha, fala sobre e, principalmente,
julga o homem Porfírio da Costa.
Natural
de um lugar totalmente desconhecido e ignorado, no meio do sertão, no meio
mesmo da mata da Restinga, no meio de montanhas altas, cobertas de farta
vegetação, e de buracos frios e úmidos, as grotas e os boqueirões,
Porfírio
afastava-se aos poucos de pessoas e de lugares.
Primeiro,
não mais ia a lugares já idos. Não queria encontrar as mesmas caras de antes e
nem de ser reconhecido, nem de ser comparado, não ser o mesmo de antes ou o
contrário: ser o mesmo de antes, ser igualzinho ao que era, não ter mudado
nada.
Em
segundo lugar, conhecer novas pessoas e pessoas novas, assim não mais havia
preocupações com reencontros e com lembranças -
as lembranças eram cargas acumuladas, sobre camadas novas, novas
camadas.
Porfírio
não abusava de comparações e nem de semelhanças. Na sua cabeça não haveria
lugar para iguais, ninguém é igual a ninguém. A diferença é que o motivava a
continuar.
Era
como um rio, mas diferente do rio não corria, infinitamente, sobre o mesmo
leito.
Perdia-se
em reentrâncias.