quarta-feira, 9 de novembro de 2016

NUNCA O MESMO







A cabeça de Porfírio


Hermes O. Trigueiro



Um maluco. 

Um sábio. 

Um doido. 

Um homem. 

Um desastrado.

Um homem do nosso tempo?




São as opiniões de quem observa, estuda, acompanha, fala sobre e, principalmente, julga o homem Porfírio da Costa.

Natural de um lugar totalmente desconhecido e ignorado, no meio do sertão, no meio mesmo da mata da Restinga, no meio de montanhas altas, cobertas de farta vegetação, e de buracos frios e úmidos, as grotas e os boqueirões,

Porfírio afastava-se aos poucos de pessoas e de lugares.

Primeiro, não mais ia a lugares já idos. Não queria encontrar as mesmas caras de antes e nem de ser reconhecido, nem de ser comparado, não ser o mesmo de antes ou o contrário: ser o mesmo de antes, ser igualzinho ao que era, não ter mudado nada.

Em segundo lugar, conhecer novas pessoas e pessoas novas, assim não mais havia preocupações com reencontros e com lembranças -  as lembranças eram cargas acumuladas, sobre camadas novas, novas camadas.

Porfírio não abusava de comparações e nem de semelhanças. Na sua cabeça não haveria lugar para iguais, ninguém é igual a ninguém. A diferença é que o motivava a continuar.

Era como um rio, mas diferente do rio não corria, infinitamente, sobre o mesmo leito.

Perdia-se em reentrâncias.