Até
a mulher, o rio e o amor
Ari Constante Soares
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Senti que minha pele se tornou um musgo
tenso e nervoso
desses
que vivem junto às poças
Eu
próprio uma parede sombria
Para
se chegar até mim seria preciso
deixar o sol
penetrar
a umidade
Quem
me ama faz analogias
com um vestido de tafetá
Meu
presente da natal para ela
-
Eu um lugar no mundo
preciso
e identificado
habitante
de um espaço
e o
próprio espaço habitado
Espaço
animado e sombrio
triste
e vagabundo, alegre e sem brios
vieram
me dialogar, numerar
distribuir-me
perigosos para todo o país
Quais
são as suas propriedades?
Tudo
porque sou um dos poucos
-
Senti e percebi ao tocar-me:
o sol saia de mim
Meu
corpo perdido, sem espaço,
era luz-objetivo
Eu
iria chegar até aquele milharal,
fazê-lo
brotar
Restar-me
como energia do milho
-
Percebi muito mais
Por
exemplo, vi por trás
de
um sorriso
a grande
tristeza bronzeada
-
Veio o mar bater na parede da casa
em
que durmo. Atreveu-se a aproximar-se
da
minha rede, levantei e dei-lhe um
chutão.
O
covarde com medo correu
juntou-se
aos outros mares.
Com
medo do medo do mar,
apanhei
minha rede e fui
estender-me
mais distante.
Vejamos
agora.
-
Deixei a toalha secando na areia,
o
mar levou
Deixei
a menina queimando na areia
...
não, não foi o mar quem levou
(Sem
que foi)
Deixei
meus sonhos amontoados
na barraca na areia
brisa levou, sonho por sonho,
grão por grão
-
Praia de Macapá
pequenininha
Do
tamanho, não maior,
da
babaca de Graça
-
No meio do rio
a
maresia
joga
para o alto
joga
para o alto
a
canoa/ a gente
de
repente a canoa da frente
se
alia ao rio, traiçoeira, e
joga
para o alto
joga
gente para o alto
joga
para dentro do rio
Pressa,
gritos,
braçadas,
tirem
da água
a
mulher aflita
e o
filho morto
preso
no abraço
amoroso
e pavoroso
Sobem
a mulher e o desespero
Até
hoje não sei
se
a mulher chorou
se
eu chorei
se
todos choraram
a
mulher olhou infinitamente para o rio
(mergulhou
em outras margens)